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    Empreiteira que fez viaduto em BH culpa prefeitura pelo desabamento

    LILIANE PELEGRINI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BELO HORIZONTE

    22/07/2014 18h54

    A Cowan, construtora do viaduto que desabou no dia 3 de julho em Belo Horizonte, responsabilizou a prefeitura pelo erro estrutural que levou à queda. Duas pessoas morreram e 23 ficaram feridas no desabamento, ocorrido durante a Copa do Mundo no Brasil.

    Em entrevista concedida à imprensa nesta terça-feira (22), peritos contratados pela empreiteira disseram que as falhas estavam no projeto, elaborado pela empresa Consol e liberado e supervisionado pela Prefeitura de Belo Horizonte. E recomendaram a demolição da alça do viaduto que restou no local.

    Segundo o calculista Catão Francisco Ribeiro, um dos peritos contratados pela Cowan, análises apontam que o viaduto desabou em razão de uma sobrecarga em um dos blocos que suportavam um pilar de sustentação.

    "Foi um milagre que não tenha desabado antes", afirmou. Segundo ele, nesse bloco foi usado um décimo da quantidade de aço necessária para manter a estrutura em pé.

    De acordo com o diretor da unidade construtora da Cowan, José Paulo Toller Motta, a alça norte do viaduto, que está escorada desde a tragédia, corre sérios riscos de desabar porque apresenta a mesma falha estrutural da alça que caiu.

    "A partir desses laudos, enviamos para o prefeito Marcio Lacerda [PSB-MG] a recomendação de não liberar o trânsito de veículos e de pedestres sob o viaduto", diz Motta.

    "A qualquer momento, a alça restante pode desabar", disse Catão Ribeiro, recomendando sua demolição. "É um erro grave, intrínseco. Foi calculado como bloco uma estrutura que deveria ter sido calculada como viga", afirmou.

    Segundo ele, é possível corrigir isso, mas o risco não compensa. "O mais seguro é a demolição. Eu não assinaria um projeto para reparar essa estrutura. Prejuízos materiais nós podemos recuperar. Mas vidas não podem ser recuperadas", disse.

    Questionado se não seria possível perceber o erro no projeto, Catão Ribeiro afirmou que os engenheiros que executam a obra "são especialidades diferentes". "Cada um tem o conhecimento da sua área", afirmou.

    Segundo Ribeiro, o projeto foi executado pela Cowan depois de liberado por engenheiros da prefeitura. Além disso, o perito destacou que o bloco que não suportou o peso do pilar estava debaixo do solo, o que dificulta a identificação de qualquer deformação ou rachadura.

    O engenheiro e perito Eduardo Vaz de Mello, também contratado pela Cowan, constatou em seu laudo que a construtora cumpriu as normas exigidas. "Todos os procedimentos e materiais utilizados foram realizados rigorosamente segundo as normas técnicas", atestou ele.

    OUTRO LADO

    Em nota, a Prefeitura de BH informou que, diante do parecer contratado pela Cowan, pediu à construtora medidas de proteção a moradores do entorno da alça norte do viaduto e um projeto de demolição da estrutura. Disse ainda que contratou pareceres para checar as causas do acidente e que "agirá com firmeza" no caso, cobrando punição e ressarcimento por falhas.

    A Consol, responsável pelo projeto do viaduto Batalha dos Guararapes, refutou as afirmações dos peritos contratados pela Cowan.

    "Através de informações preliminares é possível observar divergências entre o projeto e a construção da obra, portanto, [a Consol] aguarda o início da perícia oficial para identificação dos reais fatores que contribuíram para o acidente", disse, em nota, o engenheiro Maurício de Lana, diretor presidente da Consol.

    A empresa afirmou ainda que irá detalhar as divergências técnicas verificadas quando for convocada.

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