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    Sem aviso, pacientes buscam atendimento no PS da Santa Casa

    MARTHA ALVES
    AVENER PRADO
    DE SÃO PAULO

    23/07/2014 06h38

    Os pacientes que buscaram atendimento na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo na madrugada desta quarta-feira se surpreenderam com os portões de entrada fechados. Sem saber das interrupção dos atendimentos de urgência e emergência, eles não puderam entrar no hospital.

    O hospital atendeu, contudo, duas grávidas que chegaram em trabalho de parto.

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    A instituição é o maior hospital filantrópico da América Latina, e informou que o motivo da interrupção nos atendimento é a falta de recursos para comprar medicamentos e materiais como seringas e agulhas. De acordo com o provedor do hospital, Kalil Rocha Abdalla, a Santa Casa tem uma dívida de R$ 50 milhões com fornecedores que se negam a entregar novas encomendas enquanto o valor não for pago.

    Em nota, a assessoria de imprensa da Santa Casa disse que está tentando reverter a situação.

    Durante a madrugada, um caminhão com insumos chegou para fazer entrega, mas a assessoria de imprensa do hospital disse que o atendimento continua interrompido.

    Sem saber das interrupções também nos atendimentos de triagem para consultas com especialistas, durante a madrugada ao menos três pessoas procuraram o setor para retirar senhas para o atendimento.

    Com dores abdominais e disenteria há dias, a dona de casa Juraci das Graças Fagundes Oliveira chegou por volta das 3h com uma guia do Hospital Geral de Guarulhos para passar pela triagem da Santa Casa.

    Ao ser informada que não seria atendida, Juraci tentou argumentar que não busca a emergência, mas um encaminhamento para um especialista. "Meu caso não é de pronto-socorro, faz um ano que tenho dores abdominais e ninguém descobre o que tenho", falou chorando.

    Avener Prado/Folhapress
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    Uma mulher de 68 anos, moradora de Suzano (Grande São Paulo) também foi ao local por volta das 4h em busca de atendimento na triagem e foi mandada de volta para casa.

    A nora, que acompanhava a mulher e não quis se identificar, disse que a sogra não consegue enxergar. Ela havia ligado na Santa Casa antes da decisão da direção de fechar as portas para atendimentos de urgência.

    Quase no mesmo horário a radiologista Zoraide de Faria foi ao hospital, acompanhada do marido, com uma guia do pronto-socorro da Barra Funda para passar pela triagem e fazer uma cirurgia no dedo.

    "Me falaram para chegar aqui às 4h para pegar a senha, passar pela triagem e fazer a cirurgia ainda hoje", disse Zoraide que retornou para casa.

    Para quem tem consultas médicas marcadas o atendimento ocorre normalmente, mas o acesso aos ambulatórios é feito pela rua Dona Veridiana.

    GRÁVIDAS

    O técnico de celular Jack Duarte tomou um susto quando chegou de carro com a mulher em trabalho de parto e viu os portões do hospital fechados, por volta das 2h30. O casal foi recebido por um socorrista que colocou a grávida em uma cadeira de rodas e a levou a maternidade.

    Duarte disse que mora na região e a mulher começou a entrar em trabalho de parto. "Fiquei traumatizado com o portão fechado, mas fomos bem atendidos", disse aliviado.

    Meia hora depois, outra grávida chegou à Santa Casa em trabalho de parto e foi novamente recebida pelo socorrista e levada a maternidade.

    SEM RECURSOS

    Abdalla diz que o problema de falta de recursos ocorre há anos porque a tabela do SUS (Sistema Único de Saúde) para repasses está desatualizada.

    "Não temos dinheiro para remédio, onde preciso comprar 100, só consigo 50. Além do pronto-socorro, temos 700 leitos e não temos condições de atendê-los bem, como sempre fizemos", afirmou.

    "O governo perdoou nossas dívidas, mas os fornecedores não. Atendemos quase 10 mil pessoas por dia e já comunicamos para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) e para o resgate para que evitem trazer mais pacientes para cá", disse Abdalla.

    O Ministério da Saúde afirmou que "recebeu com preocupação a informação do fechamento do pronto-socorro da Santa Casa e que a medida unilateral não foi previamente comunicada ao ministério".

    A pasta disse ainda que "entrou em contato com a secretaria Estadual de Saúde, gestora do contrato com a Santa Casa, para conhecer as providencias que serão adotadas e contribuir na solução da situação.

    Ainda de acordo com o ministério, "os valores repassados para a Santa Casa não se restringem ao pagamento de procedimentos da tabela do SUS". "Dos R$ 303 milhões previstos para 2014, a Santa Casa receberá 49,7% em repasse por procedimentos (tabela SUS) e 50,3% em incentivos", informou em nota.

    O governo de SP afirmou que tem auxiliado sistematicamente as Santas Casas e hospitais filantrópicos com recursos extras. "Apenas para a Santa Casa de SP serão encaminhados R$ 168 milhões em recursos extras do tesouro estadual neste ano, totalizando R$ 345 milhões em dois anos."

    Procurada, a Secretaria Municipal da Saúde disse em nota que "não é a gestora do convênio (...) mas entrou em contato com a direção da instituição e se colocou à disposição para fornecer os medicamentos e materiais médico-hospitalares necessários para que o serviço não pare de funcionar".

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