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    Após 35 anos, hospital Santa Catarina decide fechar maternidade

    GIOVANNA BALOGH
    DE SÃO PAULO

    23/07/2014 17h43

    O Hospital Santa Catarina vai encerrar em três meses as atividades de sua maternidade, uma das principais de São Paulo, localizada em plena avenida Paulista (região central). A maternidade, existente há 35 anos, realiza, em média, 240 partos por mês. Ao todo, cerca de 140 mil bebês nascerem na unidade.

    De acordo com o hospital, a partir do dia 1º de agosto, será iniciado o processo de fechamento do setor e, com isso, serão encerradas as atividades da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal, do berçário, do centro obstétrico e do pronto-atendimento obstétrico.

    "Para garantir o atendimento de nossos pacientes, os serviços serão mantidos por 90 dias, período superior ao exigido pela legislação, se encerrando no dia 31 de outubro", diz o Santa Catarina.

    O hospital afirma, por meio de nota, que a ideia é ampliar a atuação em cirurgia de alta complexidade em especializadas como oncologia, neurologia, cardiologia, ortopedia e cirurgias do aparelho digestivo.

    Joel Silva - 1º.ago.2008/Folhapress
    Enfermeira cuida de recém-nascidos no berçário do hospital Santa Catarina, na região central de SP
    Enfermeira cuida de recém-nascidos no berçário do hospital Santa Catarina, na região central de SP

    "As altas taxas de ocupação e a expressiva demanda por leitos hospitalares relacionadas ao progressivo envelhecimento da população brasileira e à necessidade de revitalização da maternidade foram fatores decisivos para a tomada de decisão". Atualmente, diz o hospital, a taxa de ocupação mensal é de, em média, 87% dos seus 327 leitos.

    O especialista em administração hospital e médico Walter Cintra Ferreira Júnior diz que a tendência é que mais hospitais gerais localizados em grandes metrópoles optem em fechar as suas maternidades.

    O especialista diz que esses espaços são poucos rentáveis pois, se tudo corre bem, mãe e bebê ficam poucos dias internados e necessitam de poucos medicamentos, independente se o parto é normal ou cesárea.

    "Boa parte das receitas dos hospitais vem de materiais e de medicamentos. Um paciente de oncologia que faz quimioterapia, cirurgias, que precisa de UTI repassa um valor muito maior para o hospital do que uma parturiente", comenta.

    Ele explica que a alternativa para as gestantes com plano de saúde é procurar unidades que atendem exclusivamente partos como, por exemplo, o Santa Joana e o Pró-Matre.

    O hospital, no entanto, não quis se manifestar sobre questões financeiras. Disse apenas que investirá R$ 42 milhões neste ano e que tem notado aumento na procura de exames, internações, cirurgias e atendimento oncológico.

    O pronto-socorro infantil e adulto, no entanto, continuarão funcionando normalmente.

    GRÁVIDAS BUSCAM ALTERNATIVA

    Grávidas foram pegas de surpresa ao serem informadas pela Folha sobre o fechamento da maternidade. A tecnóloga Michele Ramos, 31, conta que no final de semana passado visitou o hospital onde conheceu o berçário e as demais instalações.

    "Me passaram todas as informações, só não avisaram que a maternidade não funcionaria mais", lamenta Michele, que tem a DPP (data provável do parto) prevista para 22 de outubro. Ao ligar na unidade na manhã desta quarta-feira (23), ela foi informada que as cesáreas e os partos normais serão atendidos somente até 27 de outubro.

    "Como pretendo ter parto normal, não posso contar com a sorte e vou ter que procurar outro hospital", diz. Apesar de o hospital ter um alto índice de cesáreas –dos 803 partos realizados até maio deste ano, 702 foram cesáreas–, o local é bastante procurado por mulheres que têm interesse em ter o parto normal por contar com banheira e sala voltadas ao parto humanizado.

    A autônoma Carolina Cabral, 33, que também pretende ter o terceiro filho de parto normal, diz que o Santa Catarina foi escolhido pois seu bebê tem um problema no coração e terá de ser operado logo após o nascimento. Carolina conta que mora em Campinas (a 95 km de SP), e seu obstetra recomendou o Santa Catarina justamente por ser referência em UTI neonatal. "Vou ter que conversar com o meu obstetra e ver quais serão as opções agora", diz.

    A ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) diz que com o fechamento da maternidade, os planos de saúde devem dar cobertura para as pacientes em outro hospital que tenha a mesma qualidade de atendimento e de serviço de hotelaria do que o prestado pelo Santa Catarina.

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