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    'Provavelmente será necessário fazer demissões', diz provedor da Santa Casa

    THAIS BILENKY
    DE SÃO PAULO

    24/07/2014 02h00

    Um dia depois do fechamento do pronto-socorro da Santa Casa de São Paulo e horas antes de anunciar sua reabertura, Kalil Rocha Abdalla, 72, provedor da instituição, disse que "provavelmente" será preciso demitir funcionários para acertar as contas da entidade, mas que haverá dificuldades devido ao pagamento de indenizações.

    Abdalla interrompeu a entrevista à Folha após questionamentos sobre sua reeleição para o terceiro mandato à frente da entidade, em abril passado. Leia trechos:

    *

    Folha - Como o sr. pretende equacionar a questão? A curto, médio e longo prazos?
    Kalil Rocha Abdalla - Não tem nem curto nem médio. É imediato. Ou entra dinheiro -e pode vir do governo municipal, estadual ou federal- ou não posso reabrir.
    Devo R$ 50 milhões. Falei para o secretário [estadual da Saúde, David Uip] que [a oferta inicial de R$ 3 milhões extras do Estado] não dá.

    O sr. imaginava que chegaria agora a esse limite?
    O estoque é sempre pequeno. Em uma semana acabou. E aí não quiseram mais fornecer sem pagamento.

    Por que não aconteceu antes?
    Precisa perguntar para eles [fornecedores]. Eu tinha passivo de 10, pagava 2, caía para 8. No outro mês, comprava mais 3, ficava saldo de 11 e foi chegando nesse total.

    O sr. avisou o secretário antes de fechar o pronto-socorro?
    Liguei para os três, o do Estado, o [José de] Filippi, do município, e o ministério.

    Qual foi a reação?
    Nada, ninguém falou nada. Falei 'vou fechar'. Mandei fazer a placa e botei na porta.

    Qual seria a solução...
    Não tem solução. A solução é pagar o fornecedor. Ou me dá algum dinheiro ou não. R$ 3 milhões é insuficiente.

    Supondo que consiga sanar agora o pagamento, como...
    Estamos fazendo planos, pedindo para Uip indicar alguém do governo que acompanhe o remanejamento.

    O que precisa mudar? Precisa demitir? Contratar?
    Demitir provavelmente precisa, mas vou encontrar dificuldade muito grande para poder demitir, porque vou ter que pagar indenização para uma série de funcionários.

    Quantos?
    Vai depender do estudo. Mil, 500? Tenho 18 mil no total. Cuidamos de 39 unidades.

    Esse plano de ação com o governo levaria quanto tempo?
    Em três meses está liquidado, mas pode ser que eles queiram modificar algo. Não sei se vão falar que está tudo errado ou se está mais ou menos. Quero que participem.

    O sr. assumiu agora a nova gestão. Não previu que poderia chegar a esse ponto?
    Não assumi agora, não. Estou aqui há seis anos.

    Esta nova gestão.
    Sim, o que é que tem?

    Chegou a contemplar o problema em seu programa?
    Sabia que tinha dificuldades, nunca foi escondido.

    O sr. chegou a avaliar o auxílio de alguém do governo?
    Para mostrar lisura das atitudes tomadas, mostrar que está tudo em ordem, que tem transparência. Isso que nós temos que fazer.

    O sr. não contemplou a situação que está enfrentando?
    Analisei tudo. O que podia fazer? Reformulação no final do mandato? Não ia imprimir uma gestão nova se fosse sair na semana seguinte.

    O sr. não colocou essa perspectiva de ter que fechar o pronto-socorro...
    Não, não pensei nada. Fechei repentinamente porque chegou um dia e o fornecedor disse que não ia mais me fornecer material. Mas está me parecendo que você está fazendo campanha. Carta marcada? Está me parecendo, porque o outro candidato esteve hoje aqui agitando [José Luiz Setúbal, candidato derrotado a provedor].

    Não se preocupe, estou fazendo o meu papel.
    Estou preocupado, sim. Está enveredando para outro lado que não está me agradando.

    É natural ter esse tipo de dúvida. Não é para o sr. suspeitar.
    Você está perguntando para poder futricar. Você devia falar que eu sou bonito, tal. Você não fala. Você só vai descer o porrete. Não nasci hoje. Estou velhinho já. Não vou falar mais. Estou sentindo que tem alguma coisa por trás.

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