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    Com trechos sobre calçadas, maior ciclovia de SP irrita moradores

    FABRÍCIO LOBEL
    LEANDRO MACHADO
    DE SÃO PAULO
    FELIPE NASCIMENTO
    DO BLOG MURAL

    25/07/2014 12h00

    Trechos da maior ciclovia em construção na cidade de São Paulo estão sendo feitos sobre a calçada e em frente a garagens de casas e do comércio da zona leste.

    Insatisfeitos, moradores e comerciantes tentaram há duas semanas impedir a continuidade da obra que vai ligar o Jardim Helena a Itaquera. Colocaram carros em cima de calçadas, que estão sendo alargadas.

    A ciclovia passa uma zona de bairros que tem o terceiro maior índice de uso de bicicleta de São Paulo, segundo a pesquisa Origem e Destino do Metrô de 2012. A zona de bairro que lidera o ranking é formada pelo Jaçanã, Santana, Vila Guilherme, Tucuruvi, entre outros da zona norte da cidade.

    Em Jardim Helena, é comum encontrar moradores de bicicletas. Na estação de trem do bairro, há um bicicletário, que fica lotado já no início da manhã.

    A nova pista terá 14,9 km e pode se conectar à ciclovia da Radial Leste, que tem 12 km –de Itaquera ao Tatuapé. A obra começou em fevereiro e deve ser concluída em setembro ao custo de R$ 6 milhões.

    O projeto faz parte do "Plano Cicloviário" de 2010. A prefeitura pretende que, até o final da gestão Fernando Haddad (PT), a cidade tenha 400 km de vias separadas aos ciclistas.

    Depois de alargado, o passeio será pintado para separar as ciclistas dos pedestres. Em vários pontos, o novo espaço tem pouco mais de um metro de distância para as garagens.

    "Como vou fazer com meu carro se a ciclovia é quase na minha porta?", reclama o aposentado Ivan Gomes, 68, morador da Vila Curuçá.

    Ele conta que, em fevereiro, operários da prefeitura quebraram sua calçada sem avisá-lo. Diz também que os funcionários pediram para a sua família trocar o portão, que poderia atrapalhar os ciclistas, pois ele abre para o lado de fora.

    Seu vizinho, o autônomo Renato Vasconcelos, 32, também reclama: "Gastei R$ 2.700 reformando a calçada sete meses antes da prefeitura vir e quebrar tudo. A ciclovia para mim só deu prejuízo."

    A prefeitura afirma que fez reuniões com a população da região para explicar o projeto.

    Quem anda bicicleta na região aprova a obra. "Quando ficar pronta, será ótimo. Não vou precisar ficar desviando dos carros", diz o eletricista Antonio Santana, 65. Na manhã de segunda-feira (21), ele esperava, de bicicleta, seu colega de trabalho. Os dois iriam ao trabalho pedalando.

    O atendente Gabriel Schury, 18, também é a favor da ciclovia. Todos os dias, ele pedala de sua casa, em São Miguel, até o mercadinho onde trabalha no Jardim Helena. "Bicicleta é o meu meio de transporte, e quanto mais segurança, melhor", diz.

    Para Horácio Figueira, consultor em engenharia de tráfego e transporte, o modelo de ciclovia na calçada e próximo a garagens pode gerar conflitos entre ciclistas e pedestres.

    "É uma solução diferente, mas vejo alguns problemas. O do pedestre ser atropelado pelo ciclista, com quem ele dividirá a calçada no mesmo nível. E o morador que sair da garagem pode atropelar o ciclista", disse.

    Segundo a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), o projeto levou em conta a quantidade de veículos e pedestres em circulação na região. A empresa diz que no local, a melhor solução era encurtar o asfalto e aumentar a calçada.

    CENTRO

    No centro também há reclamações de moradores e principalmente de comerciantes sobre a ciclovia da região, que passa por uma expansão e tem atualmente 10,5 km.

    Comerciantes dizem não terem sido consultados ou avisados com antecedência.

    "Quando vimos [a ciclovia] já estava pronta. Acho justo que se faça uma ciclovia, mas tem que ter uma alternativa para que a gente possa trabalhar", disse Wilson José Bento, 41, sócio em uma loja na rua Guaianases.

    A Folha percorreu o trecho e encontrou pontos já degradados. Há buracos e falhas no asfalto e a sarjeta está quebrada em vários pontos, avançando sobre a pista do ciclista. Também há acúmulo de água na via e vários carros estavam estacionados sobre a ciclovia.

    Para o cicloativista Daniel Guth, apesar das falhas, o importante é "consolidar as ciclovias na cidade". "[A ciclovia pode] possibilitar que a bicicleta seja um meio de transporte viável para o quem sai da periferia e vai trabalhar no centro, por exemplo", diz.

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