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    Para delegado, laudo enfraquece só uma acusação contra presos em ato

    DE SÃO PAULO

    06/08/2014 02h00

    O diretor do Deic (departamento que investiga crime organizado em São Paulo), Wagner Giudice, defendeu nesta terça-feira (5) que os laudos que constataram não serem explosivos os artefatos achados com manifestantes presos em protesto contra a Copa enfraquecem só uma das acusações contra eles.

    O delegado afirmou que pretende pedir a revisão das análises feitas pelo Gate (grupo antibombas da PM) e pelo Instituto de Criminalística (IC) e reveladas pela Folha.

    Elas mostram que os objetos atribuídos ao estudante da USP Fábio Hideki Harano e ao professor de inglês Rafael Lusvarghi não tinham potencial incendiário nem explosivo.

    Hideki e Lusvarghi se tornaram réus sob a acusação de associação criminosa, incitação ao crime e posse de "artefato explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal", dentre outros delitos.

    A pena para porte de bomba está entre as mais pesadas: três a seis anos de prisão.

    Questionado se o resultado da perícia não enfraquece a denúncia, o diretor do Deic respondeu à Folha: "Em relação a esse crime específico [porte de explosivo], certamente. Aos outros, não".

    Segundo o delegado, seria pouco provável que os acusados ficassem tanto tempo presos só devido aos explosivos.

    Veja vídeo

    NOVOS LAUDOS

    Giudice disse que policiais do Deic especializados em bombas devem ajudar a preparar perguntas para esclarecer quesitos dos laudos.

    "A gente provavelmente fará alguns questionamentos em cima [dos laudos] para complementar", afirmou. "Está dizendo no laudo que não é [explosivo], vamos tentar fazer essa contraprova."

    Segundo a perícia, o objeto achado com Lusvarghi era um frasco de Nescau com papel e elástico usados como tampa -para policiais, cheirava a gasolina e era similar a um coquetel molotov, hipótese descartada no laudo.

    Já Hideki portava um frasco vazio de um produto chamado "Fix", usado para fixar tecidos, dotado de uma espécie de pavio. Dentro, havia um componente sólido cinza, que não era inflamável.

    "Não conheço a fundo, mas acho que um pouco de gasolina e um isqueiro pode fazer um estrago em qualquer pessoa", afirmou o delegado.

    Diante dos laudos, o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh, que defende Hideki, entrou nesta terça-feira com novos pedidos de libertação.

    Os dois ativistas negam ser donos dos objetos e disseram que eles foram apresentados na delegacia pelos policiais. "Seria de uma imbecilidade sem tamanho se o negócio [explosivo] fosse colocado na bolsa dele para dar errado. E ainda a gente manda para a perícia para dar errado", argumentou Wagner Giudice.

    Editoria de Arte/Folhapress

    IMAGENS

    Para o delegado, as principais provas contra os presos são filmagens, fotos e os depoimentos de 13 policiais que acompanharam ao menos quatro protestos com os dois.

    Na interpretação da polícia, as imagens indicariam a liderança de Hideki. Em um vídeo ele aparece dizendo "corrente humano aqui atrás e barreira de obstáculo na frente".

    Já Lusvarghi seria um dos que recebiam as ordens de Hideki, interpreta a polícia.

    "Ele [Hideki] tinha comportamento de comando. O nosso entendimento é que mexemos num sujeito importante para o grupo. Pelos vídeos e pelo que conversei com o próprio Hideki, vimos que ele tem ascendência muito grande sobre os outros", afirmou Giudice.

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