• Cotidiano

    Sunday, 05-May-2024 16:06:10 -03

    Onças-pintadas invadem cidades do MS para fugir da cheia do rio Paraguai

    PAULA SPERB
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    19/08/2014 02h00

    Expulsas pela cheia do rio Paraguai, onças-pintadas estão sendo vistas nas ruas de Corumbá e Ladário, no extremo oeste de Mato Grosso do Sul, desde o fim de maio.

    As aparições nas cidades à margem do rio, no baixo Pantanal, se intensificaram neste mês. Em média, o Comitê de Contenção de Animais Silvestre de Corumbá (a 353 km de Campo Grande) tem recebido três ligações diárias sobre a presença de onças em áreas urbanas.

    Veja vídeo

    Assista ao vídeo em tablets e celulares

    "Suspeitamos que sejam de cinco a sete onças circulando entre as cidades", diz o major Fábio Catarineli, presidente do comitê.

    Segundo ele, a estimativa é feita a partir do cruzamento entre os pontos com maior número de ocorrências e a distância entre eles. Imagens captadas por uma armadilha fotográfica ajudam a concluir se uma mesma onça é vista em locais diferentes, mas próximos, por exemplo.

    O major diz que os animais aparecem principalmente à noite, mas, na última semana, ao menos dois moradores viram onças durante o dia.

    "Achei perigoso. Até então, estava acostumada a ouvir que elas apareciam somente à noite. Fiquei com medo", conta Gabriela Gonçalves Vieira, 28.

    Funcionária de um hotel que fica à beira do rio Paraguai, Gabriela avistou uma onça na quinta-feira (14), às 15h30, em um terreno próximo ao hotel.

    "Ela estava caminhando, bem tranquila. Foi a primeira vez que eu vi uma onça. Meu sogro, que morou no Pantanal, nunca viu", diz.

    Os bombeiros chegaram 15 minutos depois ao local e armaram uma armadilha, uma espécie de jaula com isca para atrair o animal. Há três delas instaladas na região.

    Neste mês, nenhuma onça foi capturada. Quando isso ocorre, o animal é solto em áreas afastadas e não inundadas do Pantanal.

    Normalmente, as onças-pintadas são vistas sozinhas, nunca em grupo.

    A empresária Samah Ziad, 31, também viu uma onça à luz do dia. No domingo (17), por volta das 14h, ela avistou o exemplar no rio Paraguai. "Primeiro vi a cabeça e daí percebi que era uma onça nadando", conta Gabriela, que fazia um passeio de barco.

    "É perfeito. Você não tem noção da beleza e da felicidade que é ver uma onça", diz. "O rio estava muito cheio. Ela nadou bastante e entrou no meio da vegetação."

    "Elas nadam muito", confirma o biólogo Leandro Silveira, presidente do Instituto Onça-Pintada. "Aguentam nadar por quilômetros. Entre os felinos, a onça é o que melhor se adapta à água."

    Apesar disso, as onças são animais terrestres, e é por esse motivo que estão fugindo da área inundada do rio Paraguai –que ocupa uma extensão de cerca de 300 quilômetros, segundo Walfrido Moraes Tomas, pesquisador do Laboratório de Vida Selvagem da Embrapa Pantanal.

    "Elas atravessam o rio em busca de refúgio, especialmente em época de nascimento de filhotes", explica Tomas. Como Corumbá e Ladário ficam às margens do rio, em uma região mais alta, as onças-pintadas buscam abrigo nestes locais.

    Segundo o pesquisador, a Embrapa mapeou cerca de cinco "cavernas" na área que servem de abrigo às onças.

    "Elas têm se alimentado de jacarés e capivaras das margens do rio e cães domésticos caçados nas áreas vizinhas. Corumbá pode ser tranquilamente chamada de capital das onças", afirma Tomas.
    Não há até o momento registro de ataque a pessoas.

    "Orientamos que as crianças sejam mais supervisionadas. Pedimos que as pessoas não se aproximem, não tirem foto. Se você estiver de frente com o animal, não dê as costas e corra. Ele pode vir para cima", alerta Catarineli, o presidente do comitê.

    "Não há muito o que fazer, são dois componentes: a cheia, um ciclo natural das águas na região, e a natureza do animal, que é se deslocar. O que muda é que agora há cidades no caminho", diz Silveira.

    "É necessário aprender a conviver com a presença desses animais, fazendo de tudo para minimizar riscos de ataques", conclui Tomas.

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024