O jardineiro de 40 anos suspeito de ter mantido em cárcere privado uma adolescente e o filho deles em Campo Grande (MS) disse, em entrevista à Folha, nesta sexta (22), que a levava para todos os lugares e que o casal brigava muito porque ela não queria fazer as tarefas domésticas.

"Ela ia comigo em todos os lugares, ela nunca ficou em casa [enquanto ele saía para trabalhar]. Ela tinha um ciúme possessivo, ela falava que eu ia trair ela [sic]. Ela queria estar atrás de mim, o tempo todo comigo", afirmou.

O jardineiro disse que também sentia ciúmes da garota, porque a "ama muito", e confirmou que as brigas eram constantes. "Ela não limpava a casa, ela não fazia almoço. E isso era o motivo das discussões da gente."

Entretanto, o homem reafirmou sua inocência. "Nunca agredi, nunca fiz cárcere", disse.

Segundo ele, o casal se mudou para a residência da ex-mulher no começo deste ano, por causa da sujeira na casa anterior. "Falei para ela: 'Vamos tirar as coisas daqui, amor. Vamos tirar o nenê daqui porque está cheio de rato, de cocô de rato'."

O jardineiro disse que a ex-mulher, com quem ele tem dois filhos, é sua amiga e sempre o ajudou, inclusive a cuidar do bebê de cinco meses que ele teve com a adolescente.

O bebê ainda não foi registrado, segundo o suspeito, porque o casal não concordava com o nome a ser dado. "Eu queria colocar Cristopher, e ela queria outro nome, Cristopher Brown. Depois [ela quis] outro nome que a mãe dela escolheu", disse.

O documento que comprova o nascimento, necessário para o registro, está com o homem. Segundo ele, se a jovem realmente estivesse em cárcere poderia ter pedido ajuda nos dias em que passou no hospital por causa do parto.

O jardineiro falou ainda que a adolescente saiu da casa da família porque a mãe dela era contra o relacionamento dos dois. Na época, a jovem tinha 16 anos. A polícia também vai ouvir a ex-mulher, a mãe do suspeito e as demais testemunhas do caso.

POLÍCIA

O homem se apresentou à polícia na tarde desta sexta-feira (22). Segundo o delegado Paulo Sérgio Lauretto, da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente, o suspeito não será detido porque a Justiça ainda não respondeu sobre o pedido de prisão preventiva feito na terça (19). "Como ele se apresentou voluntariamente, o juiz pode entender que não é o caso de prendê-lo", disse Lauretto.

A adolescente foi encontrada na segunda-feira (18), depois de escrever um bilhete no verso de uma receita médica entregue em uma farmácia local. "Ele ameaça que vai tirar meu filho [um bebê de cinco meses]. Ele já me bateu muito quando eu estava grávida", disse a garota no bilhete.

Acionada, a Polícia Militar encontrou a jovem no endereço indicado no posto de saúde onde ela foi atendida. A casa onde ela estava é da ex-mulher do jardineiro.

Em depoimento à polícia, a jovem disse que tanto na consulta como na farmácia a garota estava acompanhada do homem. A adolescente também disse que passou um tempo presa em casa e que só podia sair acompanhada do suspeito.