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    Em áudio, Bernardo grita por socorro e madrasta fala em 'agredir mais'

    DE PORTO ALEGRE

    27/08/2014 12h34

    O menino Bernardo Boldrini, que foi morto no interior do Rio Grande do Sul em abril, aparece gritando por socorro e sendo ameaçado de morte pela madrasta, Graciele Ugulini, em um vídeo usado como prova no processo do crime.

    Um trecho de áudio da gravação, divulgado pela RBS TV, mostra o garoto discutindo com Graciele e acusando-a de agredi-lo. O vídeo foi gravado em agosto de 2013, cerca de oito meses antes do crime, e encontrado em um celular do pai de Bernardo, o médico Leandro Boldrini.

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    Tanto Graciele quanto Leandro estão presos e respondem na Justiça pela morte do garoto.

    "Vocês me agrediram. Tu me agrediu", diz o garoto, na gravação. Graciele responde falando que "vai agredir mais" e afirma: "Tu não sabe do que eu sou capaz".

    A TV divulgou somente um trecho de áudio, de 1min25s, das imagens gravadas na casa da família, na cidade de Três Passos (a 466 km de Porto Alegre).

    Na parte mais impactante da gravação, a madrasta diz: "Prefiro apodrecer na cadeia a viver nesta casa contigo incomodando".

    O garoto responde: "Queria que tu morresse". Graciele retruca: "Vamos ver quem tem mais força".

    Mais adiante, ela fala: "Vamos ver quem vai para baixo da terra primeiro".

    Leandro aparece em três momentos. Diz para o garoto se acalmar e afirma que "ninguém merece ser xingado".
    "Quem que começou [a briga]?", diz o pai, no início.

    Reprodução
    Bernardo Uglione Boldrini, morto aos 11 anos no Rio Grande do Sul; gravação em que madrasta ameaça menino será usada como prova
    Bernardo morto aos 11 anos no RS; gravação em que madrasta ameaça menino será usada como prova

    NOVA PROVA

    O vídeo foi anexado ao processo na semana passada e é uma nova prova para a tese da acusação, que aponta envolvimento direto do pai no assassinato.

    À época da conclusão do inquérito, em maio, a polícia divulgou como principais indícios da participação de Boldrini uma receita que teria sido assinada por ele para a compra de um remédio encontrado no corpo do garoto e supostas contradições em seus depoimentos.

    Segundo a polícia, por exemplo, ele ligou para o celular do filho no período em que o menino estava desaparecido, apesar de ter dito a amigos que o garoto havia deixado o telefone em casa. Para os investigadores, a preocupação com o paradeiro de Bernardo era uma tentativa de criar um álibi.

    A delegada Caroline Machado, que foi ouvida anteontem na primeira audiência do processo sobre o crime, afirmou que o vídeo é revelador e que mostra o pai "se omitindo totalmente" diante da situação de conflito na família.

    Segundo ela, as imagens foram feitas em uma tentativa de mostrar que o menino tinha comportamento agressivo e problemático no convívio com a família. Em determinado momento, os gritos de socorro de Bernardo atraem policiais militares até a casa.

    No depoimento, a policial contou ainda que, no vídeo, Bernardo aparece tomando um medicamento dado pelo pai. O garoto, mais tarde, aparece com a fala "grogue", segundo a delegada.

    Caroline afirmou à Justiça que Graciele diz na gravação: "Tu vai ter o mesmo fim da tua mãe". A mãe de Bernardo cometeu suicídio em 2010.

    Segundo o Tribunal de Justiça gaúcho, há uma outra gravação feita no celular de Leandro, também em agosto de 2013, em que o menino aparece com "um facão em mãos", como se estivesse fazendo ameaças.

    A delegada disse que Leandro, antes da morte do garoto, foi até a delegacia e mostrou as imagens à polícia, "com a intenção de se precaver". Segundo a policial, nenhuma testemunha descreveu o garoto como agressivo.

    MAIS AUDIÊNCIAS

    Além do casal, estão presos sob suspeita de envolvimento na morte os irmãos Edelvânia e Evandro Wirganovicz. Ele nega qualquer participação no crime, e Edelvânia admite ter ajudado a ocultar o corpo após sofrer "pressão psicológica".

    Na segunda (25), a Justiça no município de Três Passos ouviu mais três pessoas em audiência: uma outra delegada, um médico amigo de Leandro e a dentista de Bernardo –todos como testemunhas de acusação.

    Outras testemunhas devem prestar depoimento em uma sessão marcada para o dia 8 de setembro. O pai e a madrasta não vão comparecer.

    A defesa de Leandro nega qualquer participação dele no crime. Procurado, o advogado Jader Marques disse que o vídeo mostra um conflito que já era conhecido, entre o garoto e madrasta, mas não comprova o envolvimento do pai no assassinato. Para ele, o médico era apenas "condescendente" com a situação. "É importante para a acusação fazer essa confusão entre um pai relapso, ausente, com a figura do homicídio."

    Graciele disse, em depoimento, que a morte de Bernardo foi acidental, por erro na dosagem de um calmante dado ao enteado. O advogado dela não foi localizado para comentar a gravação.

    O corpo de Bernardo Boldrini, 11, foi encontrado no dia 14 de abril deste ano dentro de um saco plástico em um matagal em Frederico Westphalen (a 364 km de Porto Alegre), cidade vizinha a Três Passos, onde vivia com o pai e a madrasta.

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