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    Críticos dizem que projeto de ciclovias de SP é 'fetiche' da prefeitura

    ARTUR RODRIGUES
    CÉSAR ROSATI
    DE SÃO PAULO

    28/08/2014 10h00

    Moradores, taxistas e motociclistas criticam a proposta da prefeitura que pretende ampliar o número de ciclovias na cidade até o fim da atual gestão. De acordo com o prefeito Fernando Haddad (PT) o plano é um "caminho sem volta".

    O petista prometeu entregar a cidade com 400 km de vias dedicadas exclusivamente às bicicletas até o fim de 2016. No entanto, a iniciativa despertou a ira em determinados setores da sociedade.

    Enquanto especialistas em transportes elogiam a iniciativa, parte da população dos bairros acusa o prefeito de falta de planejamento.

    "É um caminho de improviso com resultados imprevisíveis", afirma o presidente do Conseg (Conselho de Segurança) da Santa Cecília, Fábio Fortes, repercutindo as afirmações que o prefeito fez nesta quarta.

    Neste mês, ele e outros moradores do bairro chegaram a fazer um boletim de ocorrência contra as ciclovias. Entre as justificativas, está a falta de aviso e consulta aos moradores dos bairros.

    "[As ciclovias] são um fetiche! Por que não gastaram R$ 80 milhões para consertar as calçadas?", questiona ele.

    Na terça (26), cerca de 600 motoboys protestaram contra o fim das motofaixas e de vagas de estacionamento para dar lugar às ciclovias.

    "A criação das ciclovias complicou a vida dos motociclistas", afirma Gilberto dos Santos, presidente do sindicato da categoria.

    Ele cobra que a prefeitura crie faixas para motos entre as pistas de carros –medida que, no entanto, depende de regulamentação federal.

    Também pede a criação de políticas públicas para quem utiliza o meio de transporte. Em São Paulo, há cerca de um milhão de motocicletas.

    A prefeitura criou uma comissão para analisar os pedidos dos motoboys.

    Os taxistas são outro grupo que critica duramente as vias para bicicletas, vista por eles como "coisa de lazer".

    "Paulista é um povo rico. O cara não quer ir trabalhar de bicicleta e chegar suado no escritório", afirma Natalício Bezerra, presidente do sindicato dos taxistas.

    Ele diz que vários pontos de táxi foram retirados para dar local às ciclovias (ele não especifica quantas) e que não há demanda para esse tipo de via. "A gente não vê uma bicicleta na rua."

    Haddad rebateu as críticas dizendo que o programa dialoga com outras demandas da sociedade e não somente com a mobilidade.

    Baseado no exemplo de outras cidades do mundo, o prefeito aposta que o crescimento de demanda para as ciclovias diluirá a resistência inicial. "É um programa de saúde, esporte, de mobilidade que dialoga com muitas demandas da sociedade", diz.

    São Paulo tem 93 km de ciclovias, sendo 30 km criados durante a gestão de Haddad. No sábado passado, uma ciclovia de 4,4 km que liga, pela rua Vergueiro, o centro até a Vila Mariana, na zona sul.

    DEMANDA REPRIMIDA

    Apesar das críticas, a criação das ciclovias é uma das apostas para reverter os baixos índices de popularidade do prefeito, em especial entre os mais jovens.

    A administração municipal rebate a acusação de falta de planejamento, sustentando que a criação das faixas ganhou fôlego após um ano e meio de discussão.

    Para a arquiteta Meli Malatesta, especialista em mobilidade não motorizada, há uma demanda reprimida na cidade para o uso de bicicletas que deve aflorar.

    Ela diz que o uso das bikes vem crescendo, conforme pesquisas feitas pelo metrô. "Isso sem estruturar uma rede válida para você fazer uma viagem completa do começo ao fim e sem facilidades como bicicletários."

    "Na hora em que começar a aparecer isso o número de viagens de bicicleta tende a aumentar", completa.

    Ela cita como exemplo a expansão das ciclovias em Nova Iorque. "Era uma cidade que não tinha nenhuma tradição. E agora você vê uma quantidade imensa, e não são só jovens", diz.

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