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    Crise da água

    Calor e falta de chuva fazem casos de queimadas no país dobrarem

    CRISTINA CAMARGO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BAURU (SP)

    30/08/2014 02h00

    A falta de chuva e as altas temperaturas deste ano deixaram o Brasil em chamas. Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que os focos de queimadas dobraram em relação ao ano passado.

    De janeiro a 26 de agosto de 2013, satélites registraram em todos os Estados brasileiros 33.041 focos de queimadas, ante 65.789 no mesmo intervalo deste ano.

    É a situação mais crítica dos últimos quatro anos.

    O forte calor do início do ano e a seca persistente causaram estresse da vegetação, o que favorece a propagação do fogo. Mas, para pesquisadores, a ação humana é a maior causa de incêndios.

    "São raras as comprovações de propagação espontânea do fogo", afirma Fabiano Morelli, analista do Inpe. Como exemplo, ele cita um raio que atinge a vegetação seca.

    Segundo Morelli, as principais ocorrências estão em terrenos baldios, áreas rurais, restos de construção e descartes em estradas.

    As queimadas causam destruição na fauna e flora, empobrecem o solo, reduzem a penetração de água no subsolo e podem causar mortes e acidentes. A poluição prejudica a saúde das pessoas e interfere nos ecossistemas.

    Moradora de área próxima a terrenos com matas em Bauru (SP), a turismóloga Ofelia Moreira, 47, sofre diariamente os efeitos das queimadas na região. Ela conta que é comum ver pessoas jogando lixo e ateando fogo à vegetação para queimar os resíduos.

    "Passo o dia respirando fumaça. Tenho dor de cabeça. Nesta semana, mesmo com os vidros fechados dormi respirando fumaça", afirmou.

    Em Goiás, a Polícia Rodoviária Federal divulgou alerta na semana passada por causa do grande número de queimadas às margens de rodovias, que aumentam o risco de acidentes.

    Edson Silva - 15.ago.14/Folhapress
    Queimada em matagal no acostamento da rodovia Armando de Sales Oliveira, em Sertãozinho, interior de SP
    Queimada em matagal no acostamento da rodovia Armando de Sales Oliveira, em Sertãozinho, em SP

    SECA NAS REGIÕES

    A seca foi mais acentuada nas regiões central e sudeste do país, segundo o coordenador do monitoramento de queimadas do Inpe, Alberto Setzer, mas também foi sentida em outras áreas.

    A associação entre tempo seco e o aumento de queimadas pode ser percebida em Mato Grosso, onde foram detectados 12.872 focos de incêndio neste ano -no mesmo período do ano passado, o Estado teve 7.652 focos.
    Já Rondônia e Pará registraram os maiores aumentos de focos de queimadas. No primeiro, o crescimento foi de 379% -de 621 focos para 2.975. No segundo, o aumento foi de 298% -de 2.349 para 9.368 focos.

    "Na minha cidade tem queimada todo dia, por volta das 18h. A cidade fica tomada por cinzas e fumaças. Muitas crianças e adultos adoecem", relata a recepcionista Flávia Lopes, 27, moradora de Parauapebas, no Pará. "Eu sinto falta de ar", diz.

    Para Gabriel Zacharias, chefe substituto do Prevfogo, centro especializado do Ibama, queimadas em áreas de floresta amazônica e mata atlântica, que podem nunca mais se recuperar, são as mais preocupantes. Já no cerrado a recuperação é mais fácil, pelo tipo de vegetação.

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