• Cotidiano

    Saturday, 04-May-2024 17:28:07 -03

    Florêncio Lecchi (1928-2014) - Um padre que ensinava química

    DE SÃO PAULO

    03/09/2014 00h01

    Em 48 anos dando aulas de química, o padre Florêncio Lecchi contabilizou seus alunos, anotando cada um dos nomes em um caderno.

    Queria saber, quando aposentasse de vez a tabela periódica, quantos jovens passaram por sua classe no tradicional Colégio Diocesano, em Teresina (PI).

    "Ele anotava até o número de adolescentes chamados José e Maria. Que, aliás, foram mais de 600 cada", diz Cícero Silva, 51, assistente do padre no laboratório de química do colégio por 30 anos.

    O espaço, criado pelo padre nos anos 60, foi um dos primeiros laboratórios de química em escolas de Teresina. Em quase cinco décadas de ensino, exatos 6.664 estudantes passaram por sua classe.

    Padre Florêncio, jesuíta desde 1948, nasceu em Bérgamo, na Itália. Por lá, fez um curso que lhe permitia lecionar química para jovens.

    Chegou ao Piauí em 1963 para uma missão da Companhia de Jesus. Pouco falava o português, mas ganhou fluência junto aos alunos.

    Era muito querido por eles. Tanto que, todo começo de ano letivo, havia fila de espera para entrar em alguma de suas três turmas anuais. Nem todos conseguiam.

    Com as aulas já correndo, porém, alguns estudantes desistiam do padre/professor. Ele era duro nas broncas. "Quem sentasse no peitoril da janela levava um castigo", diz Cícero. E a pena era mais cansativa que decorar a tabela periódica: escrever cem vezes a frase "peitoril não é banco".

    Padre Florêncio morreu na sexta-feira (29), aos 86 anos, de complicações causadas pela dengue. Deixa, na Itália, uma irmã e dois irmãos.

    coluna.obituario@uol.com.br

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024