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    Famílias ocupam terreno da zona oeste de São Paulo; assista

    AVENER PRADO
    DE SÃO PAULO
    JÉSSICA STUQUE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    05/09/2014 23h29

    Um grupo de sem-teto invadiu, por volta das 23h desta sexta-feira (5), um terreno de 30 mil m², próximo ao cemitério Gethsemani, na região da Vila Sônia, na zona oeste de São Paulo.

    A ação foi coordenada pelo MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), em conjunto com moradores de comunidades locais. A área, segundo a Secretaria Municipal de Habitação, pertence à prefeitura, mas há também uma área particular no local da invasão. A prefeitura não soube especificar quem é a dona do terreno.

    De acordo com o movimento, havia cerca de 800 pessoas no local. A GCM (Guarda Civil Metropolitana), que acompanhou o início da ocupação, diz que 300 pessoas estavam no local.

    Seguranças de um prédio próximo dispararam tiros para o alto na tentativa de dispersar as famílias que chegavam ao local. Vagner de Sousa, 38, ajudante de pedreiro que procurava um espaço no terreno, presenciou o momento. "A gente achou que eram fogos (de artifício) na rua, mas quando a gente viu, os homens estavam atirando." Nas imagens feitas pela Folha é possível ouvir o barulho do que seriam os disparos.

    Famílias ainda relataram que pessoas do prédio tentaram jogar lixo no local.

    Segundo o coordenador nacional do MTST, Guilherme Boulos, trata-se de uma área de ZEIS (Zona Especial de Interesse Social) prevista pelo Plano Diretor, na qual não há projeto de construção de moradia popular até o momento.

    Boulos, que é colunista da Folha, afirma que a área será destinada à habitação popular e acredita que parte do terreno foi apropriado indevidamente por empreendimento privado na construção de condomínio de alto padrão, não permitido pelo zoneamento. "Além de reivindicar essa área para moradia popular, a ocupação é uma forma de denunciar a apropriação indevida de parte do terreno."

    Dois carros da GCM e cinco da PM monitoraram o início da ocupação.

    O MTST agora tenta consolidar a ocupação. De acordo com Josué Rocha, coordenador estadual do movimento, cerca de 2.000 pessoas são esperadas até domingo (7).

    A secretaria disse que GCMs estão no local e impedem que novos sem-tetos entrem no terreno. Quem saí, segundo a prefeitura, é impedido de voltar. A secretaria afirmou ainda que os moradores que invadirem a área não serão privilegiados na fila por habitação popular.

    Veja vídeo

    COMUNIDADES LOCAIS

    A maioria das famílias, segundo os sem-teto, é de comunidades próximas ao terreno, como Paraisópolis e Jardim Colombo, e veio para a ocupação alegando altos preços dos aluguéis.

    De acordo com Josué Rocha, "não foi uma iniciativa do movimento, mas uma demanda da própria comunidade", que pediu ajuda ao movimento para coordenar a ocupação.

    É o caso de Ednan Carlos, 40, que trabalha em um sacolão próximo à região e tem três filhos. Ele diz não ganhar o suficiente para pagar o aluguel de R$ 500 e sustentar a família. "Vou sair do aluguel. É um dinheiro a mais que entra para a alimentação da casa".

    Vagner de Sousa, 38, ajudante de pedreiro, sempre morou no Jardim Colombo e paga R$ 700 de aluguel por mês. Pai de três filhos, ele quer trazer toda a família. "Uma casinha 5x10 m já é melhor que onde eu moro. Amanhã vem todo mundo para cá."

    Há também famílias que vieram da ocupação Portal do Povo (também na região do Morumbi), reintegrada há pouco mais de um mês.

    Uma delas é a cozinheira e camareira Maria Lima, 56, que voltou a morar com o filho após ser despejada. Desempregada há cinco meses, ela procurava um espaço para morar. Ela estava ao lado de Daiane Alves, 27, que trabalha entregando folhetos aos finais de semana e também foi despejada. "Eu ficava na casa de um, na casa de outro, na associação. Mas agora espero que dê certo. Esse final de semana vou ficar aqui para ajudar a carpir e montar meu barraco direitinho para trazer o meu colchão."

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