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    Grupo de sem-teto diz ter sido recebido a tiros durante invasão em SP

    AVENER PRADO
    DE SÃO PAULO
    JÉSSICA STUQUE
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    06/09/2014 12h32

    O grupo de sem-teto que invadiu durante a noite de sexta-feira (5) e madrugada de sábado (6) um terreno de 30 mil m², próximo ao cemitério Gethsemani, na região da Vila Sônia, na zona oeste de São Paulo, diz ter sido recebido com tiros para o alto de homens armados que tentaram impedir a ocupação. Os invasores não têm certeza se os responsáveis pelos disparos foram vigias ou moradores dos prédios de luxo que ficam no entorno da área invadida.

    "A gente achou que eram fogos [de artifício] na rua, mas quando a gente viu, os homens estavam atirando." Nas imagens feitas pela Folha é possível ouvir o barulho do que seriam os disparos. Segundo o coordenador nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), Guilherme Boulos, será registrado um boletim de ocorrência.

    Os sem-teto também afirmaram que moradores vizinhos ao terreno jogaram lixo pelas varandas e acionaram a Polícia Militar. A ação foi coordenada pelo MTST, em conjunto com moradores de comunidades locais que alegam não ter dinheiro para pagar aluguel.

    A área, segundo a Secretaria Municipal de Habitação, pertence à prefeitura, mas há também uma parte do terreno que seria particular. A prefeitura não soube especificar quem é a dona do terreno e afirmou que terá esses detalhes apenas na segunda-feira (8).

    De acordo com o movimento, cerca de 500 pessoas estão no local. A GCM (Guarda Civil Metropolitana), que acompanhou o início da ocupação, diz que são 300 pessoas.

    Segundo Boulos, que é colunista da Folha, trata-se de uma área de ZEIS (Zona Especial de Interesse Social) prevista pelo Plano Diretor, na qual não há projeto de construção de moradia popular até o momento.

    Boulos afirma que a área será destinada à habitação popular e acredita que parte do terreno foi apropriado indevidamente por empreendimento privado na construção de condomínio de alto padrão, não permitido pelo zoneamento. "Além de reivindicar essa área para moradia popular, a ocupação é uma forma de denunciar a apropriação indevida de parte do terreno."

    O MTST espera reunir mais pessoas e, de acordo com Josué Rocha, coordenador estadual do movimento, cerca de 2.000 pessoas são esperadas até domingo (7).

    A secretaria disse que GCMs estão no local e impedem que novos sem-teto entrem no terreno. Quem saí, segundo a prefeitura, é impedido de voltar. A secretaria afirmou ainda que os moradores que invadirem a área não serão privilegiados na fila por habitação popular e que pretende entrar com uma ação para pedir a reintegração de posse da área.

    Veja vídeo

    COMUNIDADES LOCAIS

    A maioria das famílias, segundo os sem-teto, é de comunidades próximas ao terreno, como Paraisópolis e Jardim Colombo, e veio para a ocupação alegando altos preços dos aluguéis.

    De acordo com Rocha, "não foi uma iniciativa do movimento, mas uma demanda da própria comunidade", que pediu ajuda ao movimento para coordenar a ocupação.

    É o caso de Ednan Carlos, 40, que trabalha em um sacolão próximo à região e tem três filhos. Ele diz não ganhar o suficiente para pagar o aluguel de R$ 500 e sustentar a família. "Vou sair do aluguel. É um dinheiro a mais que entra para a alimentação da casa".

    Vagner de Sousa, 38, ajudante de pedreiro, sempre morou no Jardim Colombo e paga R$ 700 de aluguel por mês. Pai de três filhos, ele quer trazer toda a família. "Uma casinha 5x10 m já é melhor que onde eu moro.
    Amanhã vem todo mundo para cá."

    Há também famílias que vieram da ocupação Portal do Povo (também na região do Morumbi), reintegrada há pouco mais de um mês.

    Uma delas é a cozinheira e camareira Maria Lima, 56, que voltou a morar com o filho após ser despejada. Desempregada há cinco meses, ela procurava um espaço para morar. Ela estava ao lado de Daiane Alves, 27, que trabalha entregando folhetos aos finais de semana e também foi despejada. "Eu ficava na casa de um, na casa de outro, na associação. Mas agora espero que dê certo. Esse final de semana vou ficar aqui para ajudar a carpir e montar meu barraco direitinho para trazer o meu colchão."

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