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    'Cópias' do Cristo Redentor sofrem com abandono e sujeira pelo país

    JULIANA COISSI
    DA ENVIADA ESPECIAL A POÇOS DE CALDAS

    07/09/2014 02h00

    "Karina, Miguel, Kaio". Do alto do mirante, Mathyas, 8, lê os nomes escritos no pé da estátua do Cristo Redentor da mineira Poços de Caldas. Escritos, não. Pichados.

    A professora Miriam da Silva, 39, puxa o braço do filho para afastá-lo do buraco no parapeito, espaço suficiente para passar o corpo dele, a 14 metros do chão.

    Estátuas de Cristo espalhadas pelo país, muitas delas réplicas da imagem que é cartão-postal do Rio, enfrentam abandono. Quando não faltam reparos no próprio monumento, o problema está na estrutura precária ao redor.

    Pichações, cheiro de urina, lixo, banheiros inutilizados e insegurança "recepcionam" os turistas que visitam mirantes de municípios, alguns deles turísticos, em Minas Gerais, Bahia, Goiás e Santa Catarina, entre outros Estados.

    Prefeituras dizem ter projetos para revitalizar as estátuas e as áreas no entorno.

    Uma das piores situações é a do Cristo de Senador Canedo, próximo a Goiânia.

    A imagem de 16 metros está repleta de rachaduras. Um dos dedos do Cristo quebrou. Quem visita o local vê a base pichada e com janelas e portas depredadas.

    "Nas procissões que fazemos na Páscoa, vamos antes limpar em volta para não constranger os fiéis", diz o padre Edvaldo Santos, de uma igreja vizinha ao local.

    O Cristo de Araguaína, no Tocantins, também requer reparo. Um dos vidros da base foi furtado e há pichações nas paredes. Anjos de ferro na entrada foram destruídos.

    Em Poços, o Cristo de 16 metros erguido em 1958 ajuda a compor a vista do alto do morro, 1.686 metros acima do nível do mar. O cenário atrai quem voa de parapente.

    Mas o cheiro de urina, sentido desde a base do teleférico que leva ao Cristo, ajuda a quebrar o encanto.

    A própria prefeitura, ciente do odor, estuda fechar o acesso ao Cristo à noite e planeja revitalizar o local.

    Em Corumbá (MS), de cujo mirante do Cristo de 12 metros se vê o Pantanal, o que falta é banheiro e estrutura.

    "Aqui chega fácil aos 40ºC. O turista podia ter como comprar, lá no alto [900 m], uma água, um sorvete", afirma o guia Florêncio Aponte, 52.

    Se a estátua está conservada, há casos em que a insegurança afasta turistas, como no Cristo Crucificado, de Vitória da Conquista (BA).

    "Não dá para ir sozinho. Só vou quando tem procissão, com muita gente", diz Maria Constância Santana, 54.

    Há monumentos que foram cenários de violência. Em 2012, em Pouso Alegre (MG), o Cristo se tornou cativeiro: pai e filho ficaram amarrados a madrugada inteira na base da estátua durante um sequestro.

    No mesmo ano, na também mineira Uberaba, vândalos atearam fogo pelo menos três vezes na estátua, hoje recuperada pelos moradores.

    Em Barra Velha (SC), a fina camada de cal deixa evidentes pichações antigas na estátua, além das novas.

    Na turística Parintins (AM), a praça que abriga o Cristo está interditada –a prefeitura alega problemas de infraestrutura na área.

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