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    Proibido de ir a protestos, professor afirma que é ativista em sala de aula

    DE SÃO PAULO

    08/09/2014 02h00

    Durante quase um ano, o professor Jefte Nascimento, 30, deixava o giz e o apagador na classe da escola estadual em que dava aulas de português e inglês, e saía vestindo jaqueta preta, pronto para o "front" –no caso, os protestos em São Paulo.

    Figurinha carimbada em manifestações da cidade, ele foi preso em 24 de julho, acusado de fazer protestos violentos e depredar uma agência bancária, segundo a polícia.

    Foi solto 8 dias depois, mas com uma exigência da juíza: estava proibido de ir a protestos até o fim do processo. Por força da Justiça, segue afastado dos atos nas ruas.

    Indiciado por associação criminosa, Nascimento diz que agora, além de se dedicar à família –casado, tem uma filha de sete anos– faz "ativismo dentro de classe". "Dar aulas também é uma maneira de estar nas ruas, de se manifestar", explica.

    O professor diz que foi alvo de uma ação arbitrária. "O que se fez foi acabar com a reputação de uma pessoa, o que significa torná-la um mostro, um estranho. Foi cruel", queixa-se. A polícia, porém, diz ter fotos e vídeos que o mostram depredando uma agência.

    Drago/Folhapress
    Jefte Nascimento preso sob acusação de fazer protestos violentos e depredar uma agência bancária
    Jefte Nascimento preso sob acusação de fazer protestos violentos e depredar uma agência bancária

    Nascimento conta que seu interesse pelo ativismo começou na infância, nos barracos em que morou na Fazenda da Juta –antiga ocupação que virou bairro no extremo leste de São Paulo. Hoje, ele vive num apartamento na região.

    Pernambucano do Recife, se mudou para São Paulo aos seis anos, quando chegou à capital com os pais –um jardineiro e uma dona de casa– e os seis irmãos. O professor, que na infância vendia balas nos trens, cursou letras e fez pós-graduação em língua portuguesa na Unicamp.

    Em 2013, desapontado com o movimento sindical de professores em que estava engajado, diz que resolveu ir à rua "com a juventude que acordou através das redes sociais".

    Ele diz que nunca se filiou a partidos políticos, e que jamais incentivou seus alunos, do ensino médio, a ir aos protestos. "Não misturo as coisas. E não sou nem agressivo, nem vândalo, como falaram." (GBJ)

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