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    Empresário diz que tentou esconder vício da família

    DE SÃO PAULO

    08/09/2014 02h00

    Aos 42 anos, Paulo fala abertamente sobre os problemas que já teve com drogas, mas, mesmo assim, prefere não divulgar seu nome real ou ser fotografado. Ele foi usuário de cocaína dos 19 aos 35 anos. "Casei, tive filhos e continuei usando."

    Dono de uma construtora, tentava manter as aparências: se drogava à noite e saia de casa cedo todos os dias

    Mas o caminho do escritório era desviado para o quarto de um hotel, onde ele passava horas dormindo. "Comecei a perder as rédeas da empresa. Quando aparecia mal no trabalho, achavam que eu tinha bebido, o que é considerado mais aceitável."

    TAREFAS COTIDIANAS

    Fábio, 36, começou a usar cocaína três anos atrás, após se separar de sua mulher.

    Gerente de uma grande empresa de telecomunicações, passou a cancelar reuniões de trabalho em razão do vício. "Não conseguia fazer tarefas cotidianas, algumas pessoas perceberam."

    Com medo do preconceito, ele tentou esconder o problema de amigos e colegas de trabalho, pediu férias e se internou em uma clínica para fazer tratamento. "Depois disso, acabei compartilhando o caso com algumas pessoas, mas era gente que eu sabia que também tinha passado por isso."

    QUEM USA

    O Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, promovido pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) em 2012, mostrou que quase 6 milhões de brasileiros (4% da população adulta) já experimentaram cocaína na vida.

    Entre essas pessoas, 27,2% tinha uma renda familiar de até dois salários mínimos (R$ 1.244, em 2012), 36,5% de quatro a cinco (R$ 2.488 a R$ 3.110) e 36.3% mais de cinco salários mínimos.

    Ter mais ou menos dinheiro não é um fator de risco para o uso, pois a droga é barata no Brasil. Para o tratamento, no entanto, há clínicas que chegam a cobrar mensalidades de mais de R$ 14 mil em quarto duplo.

    Segundo o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, responsável pelo estudo, a renda mais alta dá, ao mesmo tempo, estabilidade ou mais problemas a um paciente.

    "A pessoa pode ter uma segurança financeira sem depender do INSS, em algumas situações", diz. "Mas, em outras, até o próprio dinheiro do auxílio-doença vira risco para ele seguir usando a droga."

    No caso do empresário Paulo, ele disse a seus funcionários que ia fazer um curso no exterior para se internar em uma clínica.

    "Depois de passar por isso, identifiquei o problema na minha própria empresa. Quando descobri que um funcionário estava usando cocaína, mandei embora."

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