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    Pai e madrasta provocavam Bernardo até ele 'explodir', afirma ex-babá

    PAULA SPERB
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    08/09/2014 19h30

    Uma antiga babá de Bernardo Boldrini, assassinado aos 11 anos de idade em abril, no interior do Rio Grande do Sul, disse em depoimento à Justiça nesta segunda-feira (8) que o pai e a madrasta do menino o provocavam "a ponto de explodir".

    "Você não tem solução, você tem que ser internado", dizia Graciele Ugulini ao enteado, segundo a babá.

    Outras sete testemunhas foram ouvidas nesta segunda em audiência sobre a morte do garoto.

    A cuidadora também disse que Bernardo desconhecia a causa da morte da mãe, Odilaine Uglione. Segundo a polícia, ela se suicidou em abril de 2010.

    Depois de questionar o pai e a madrasta sobre isso, Bernardo teria dito à babá: "Ela queria matar o meu pai e, como ela não conseguiu, se matou".

    A audiência ocorreu no Fórum de Três Passos (a 389 km de Porto Alegre), cidade onde Bernardo morava com o pai, o médico Leandro Boldrini, e a madrasta, Graciele Ugulini. Bernardo foi encontrado enterrado em um terreno na cidade vizinha de Frederico Westphalen.

    O pai e a madrasta dele estão presos desde 14 de abril, acusados do assassinato, e não participaram da audiência.

    Reprodução
    Bernardo Uglione Boldrini, morto aos 11 anos no Rio Grande do Sul; gravação em que madrasta ameaça menino será usada como prova
    Bernardo, morto aos 11 anos no RS; gravação em que madrasta ameaça menino será usada como prova

    VÍDEO

    Depois da divulgação de um vídeo do celular de Leandro Boldrini, que foi recuperado pela perícia e apresentado em audiência de 26 de agosto, a avó materna de Bernardo quer que a investigação sobre a morte da filha seja reaberta. Na gravação, Graciele diz a Bernardo que ele "vai ter o mesmo fim da mãe".

    A vizinha que costumava cuidar de Bernardo e o conhecia desde os dois anos também falou à Justiça e disse que o garoto não tinha a chave de casa e, do lado de fora, ligava para que abrissem o portão. Segundo ela, Graciele não atendia o telefone.

    Além disso, a madrasta também não compartilhava a comida com o garoto, que tinha de preparar suas próprias refeições, afirmou.

    De acordo com o Tribunal de Justiça, a vizinha disse ter ouvido de Graciele: "Esse guri só me incomoda". "Era um guri fantástico. Obediente e carinhoso. Chegava a abrir a porta do carro para mim."

    Outra testemunha ouvida nesta segunda foi a a secretária da escola onde Bernardo estudava. Ela disse que, no dia em que desapareceu (4 de abril), ele estava muito feliz porque ganharia um aquário. Era essa mulher quem costumava levá-lo à escola, de carona.

    Neste dia, um policial rodoviário estadual parou o carro dirigido por Graciele a caminho de Frederico Westphalen, onde o corpo de Bernardo foi encontrado. O policial parou o veículo por causa da alta velocidade.

    Bernardo estava no banco de trás, segundo uma testemunha que depôs em audiência na quinta-feira (4), em Tenente Portela (a 456 km de Porto Alegre). Em depoimento pouco depois de ser preso, Leandro disse que a madrasta estava levando Bernardo para comprar uma televisão.

    Uma ex-professora de Bernardo também falou na audiência. A educadora disse que o garoto tinha dificuldade de concentração, mas se dava bem com os colegas. Segundo ela, Graciele chegou a dizer às professoras da escola que Bernardo era esquizofrênico e que "corria atrás deles [dela e do pai] com um facão".

    A professora também disse que Leandro ficava incomodado quando era procurado para falar sobre o desempenho escolar de Bernardo.

    A secretária do consultório de Leandro, outra testemunha ouvida nesta segunda, contou que Graciele a orientou para que expulsasse Bernardo do local. "Ela dizia que o lugar dele não era ali", contou a secretária. De acordo com ela, Graciele mencionou em "dar fim nesse piá" e "que gente para isso não faltava".

    Ela ainda descreveu Leandro como uma pessoa que nunca demonstrava seus sentimentos.

    O CASO

    Edelvânia Wirganovicz participou da audiência. Ela está presa e afirma que ajudou Graciele a ocultar o corpo do garoto após sofrer "pressão psicológica". Seu irmão, Evandro Wirganovicz, também é acusado, mas nega participação no crime.

    O pai de Bernardo nega qualquer participação no crime, e a madrasta diz que a morte foi acidental, após erro na dosagem de um calmante dado por ela ao enteado.

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