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    Polícia descarta homofobia em morte de jovem gay

    CRISTINA CAMARGO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    13/09/2014 14h31

    A Polícia Civil de Goiás descartou neste sábado (13) que a homofobia tenha sido a motivação para o assassinato de João Antônio Donati, 18, homossexual encontrado morto na quarta-feira (10) com hematomas no rosto e sacos plásticos na boca em Inhumas, região metropolitana de Goiânia.

    "Pelas circunstâncias do crime, por ora a homofobia está descartada", disse o delegado Humberto Teófilo de Menezes Neto, responsável pela investigação.

    As polícias Civil e Militar de Goiás prenderam na tarde de sexta-feira (12) um lavrador de 20 anos suspeito de matar Donati. Segundo a polícia, ele confessou e disse que o crime aconteceu após um desentendimento entre os dois.

    O lavrador e a vítima tiveram relação sexual num terreno baldio após um encontro casual na rua. Depois disso, eles discutiram e lutaram. Ainda segundo o relato à polícia, o suspeito aplicou um golpe que levou Donati a desmaiar. Em seguida, encheu a boca da vítima de sacos plásticos que estavam no terreno e fugiu.

    Para o delegado, a homofobia seria caracterizada caso o crime tivesse sido cometido por causa de ódio contra os gays.

    O antropólogo Luiz Mott, 68, fundador do Grupo Gay da Bahia, discorda. De acordo com ele, a crueldade e o uso de violência múltipla são características dos crimes de ódio.

    "Obviamente é um crime homofóbico", disse. "Foi a condição homossexual do menino que levou ao crime."

    Apesar de o lavrador ter confessado o assassinato, o delegado informa que ainda tem 30 dias para reunir mais provas, apurar a veracidade das informações e concluir o inquérito policial.

    A polícia vai investigar, por exemplo, se o encontro foi casual mesmo ou se os dois já se conheciam, e qual foi o motivo da briga.

    O lavrador disse à polícia que usou os sacos plásticos num momento de desespero. Ele foi preso na fazenda onde trabalhava, em Inhumas. O suspeito deixou o RG cair no local do crime, o que levou a polícia até ele.

    A morte de Donati teve grande repercussão das redes sociais. Amigos e militantes de grupos gays pedem a punição do suspeito e chegaram a divulgar fotos do jovem morto no terreno baldio.

    CRIMES

    Segundo o Grupo Gay da Bahia, 207 pessoas foram assassinadas no Brasil neste ano por motivação homofóbica. O grupo mantém um banco de dados na internet com números, estatísticas e relatos de casos.

    Para Mott, a condição de vulnerabilidade social de Donati estimulou a disposição do suspeito de matar o jovem gay de forma cruel.

    O antropólogo afirmou que existem três tipos de crimes considerados homofóbicos pelos grupos de defesa dos homossexuais: o individual, provocado pelo conflito do criminoso em relação à próxima homossexualidade, a cultural e a institucional, que seria a falta de garantia de segurança por parte do poder público aos homossexuais.

    "Virou moda delegados declararem que assassinatos de gays e travestis não são crimes de homofobia", concluiu.

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