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    Mortes de mulheres em GO continuam sem solução 8 meses após 1º caso

    JULIANA COISSI
    DE SÃO PAULO

    19/09/2014 02h00

    Oito meses após a morte de Bárbara, de 14 anos, a primeira das 15 jovens mortas em circunstâncias semelhantes este ano em Goiânia, nenhum dos crimes foi esclarecido pela Polícia Civil.

    Os assassinatos, cometidos por um homem de moto e que em geral nada roubou, levaram pânico à capital goiana e foram tema da campanha eleitoral de adversários do tucano Marconi Perillo, que tenta a reeleição.

    Familiares das mulheres reclamam não apenas da demora na solução dos casos mas também da falta de apoio psicológico prometido pelo governo. Perillo reuniu-se com as famílias em agosto para oferecer o tratamento.

    Há parentes que dizem que nem sequer foram procurados pelo governo, e outros afirmam que a consulta com um psicólogo foi desmarcada sem novo agendamento.

    O servidor público Eder Nascimento, 33, pagou do próprio bolso duas consultas com psicólogo para a mãe dele, avó da primeira vítima.

    "Para falar a verdade, eu nem sabia que tinha [atendimento psicológico gratuito]", disse o tio de Bárbara.

    Na família, ele e a mãe são os que acompanham as investigações. Para Nascimento, o caso de sua sobrinha só ganhou atenção após a última morte, em agosto.

    "A polícia está trabalhando. O que faltou não foi ação da polícia, mas do governo, de ter colocado mais gente na equipe e mais material para acelerar o trabalho."

    Segundo ele, os próprios policiais civis admitiram estar sobrecarregados com dezenas de outros homicídios.

    Marido de Lilian, 27, morta em fevereiro, o mecânico Carlos Eduardo Valczak, 35, diz que ninguém o procurou para marcar uma consulta para seus filhos, Ana Caroline, 11, e Carlos, 7. A mais velha, diz, vive calada desde a morte da mãe.

    Irmã de Beatriz, 23, a segunda vítima, Lorena Oliveira Moura, 23, conta que a consulta foi agendada, mas a psicóloga a cancelou no mesmo dia. Em nova data, foi Lorena quem não pode ir, e não houve remarcação.

    Situação parecida relata Marcos Paulo Barbosa, 26, irmão de Taynara, 13, morta em junho. Foi agendado atendimento para a mãe dele e a sobrinha. "Mas, no dia, minha mãe precisou ir à delegacia e depois ninguém ligou mais."

    Marlene de Sousa, 53, mãe de Bruna, 27, a sétima vítima, foi a duas sessões, assim como Cristiano Ronaldo, 7, filho da vítima.

    Ela reclama, porém, da distância: são dois ônibus do Jardim Itaipu, onde vive, até o centro, local do atendimento. O tempo gasto para ir e voltar fez com que o menino chegasse atrasado à escola.

    Parentes de outras vítimas dispensaram a oferta de apoio do governo.

    OUTRO LADO

    O governo, em nota, diz que os casos estão sob investigação, mas que homicídios "são sempre complexos e exigem tempo e equipes numerosas", além de "levantamento robusto de provas".

    Há demora, diz, na quebra de sigilos telefônicos, o que não depende do Estado.

    Sobre o apoio psicológico, a pasta diz ter localizado 14 famílias e feito o "primeiro atendimento" de dez.

    Após essa etapa, segue a nota, quatro desistiram, principalmente por dificuldades de deslocamento.

    Weimer Carvalho/Folhapress
    Marlene Bernardete, 53, mãe de Bruna Gleycielle Gonçalves, 26, uma das mulheres assassinadas em Goiânia neste ano
    Marlene Bernardete, 53, mãe de Bruna Gleycielle Gonçalves, 26, uma das jovens assassinadas em GO

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