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    Crise da água

    'Há dois meses eu compro água', diz moradora de Itu (SP) após protesto

    LUCAS SAMPAIO
    ENVIADO ESPECIAL A ITU (SP)

    22/09/2014 21h23

    Uma manifestação contra a falta de água acabou em confronto na tarde desta segunda-feira (22) no centro de Itu (a 102 km de São Paulo). Moradores revoltados com o racionamento atiraram pedras contra a Câmara da cidade e a Força Tática reagiu com bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão.

    "Fui hoje cedo na concessionária porque estou há um mês sem água. Saí de lá e fui direto para o protesto", diz a funcionária pública Elisiete Feitosa, 47. "Jogaram bomba em todo mundo, era criança, cadeirante, idoso, não respeitaram ninguém. O erro não era de quem estava se manifestando. A gente está pagando pela água. O erro é de quem quebra."

    Maria Lúcia Pedrosa da Silva, 49, estava trabalhando durante o protesto, mas o filho de 18 anos foi um dos sete detidos pela PM em flagrante por depredação de patrimônio. "Conversei com meu filho e ele disse que não fez nada. Ele estava passando e foi detido", diz. "Há dois meses eu compro água. Já gastei R$ 1.200."

    Rafael Paco/Jornal Taperá
    Protesto contra falta de água termina em quebradeira na cidade de Itu
    Protesto contra falta de água termina em quebradeira na cidade de Itu

    No plantão policial, familiares e amigos dos detidos reclamavam da falta de água na cidade. "Está todo mundo revoltado. Tem de fazer alguma coisa", diz Feitosa.

    Segundo a Polícia Militar, com os detidos foram encontrados uma faca, um soco inglês e pedras, e o serviço de inteligência da corporação filmou a ação. Até as 21h, eles aguardavam para ser ouvidos pela polícia.

    "Foi um horror, eu nunca vi nada assim", diz a aposentada Margarida Galvão, 58, que mora em frente à Câmara. "Estou há três dias sem água e quase todo dia tenho de comprar. Minha filha mora em Salto e lá não tem esse problema."

    O garçom André dos Reis, 49, não foi ao protesto porque estava trabalhando, mas diz que o ato "por um lado foi bonito, mas por outro foi desagradável, por causa da baderna".

    "É desagradável trabalhar o dia inteiro, chegar em casa e não ter água para tomar banho. Se fosse dia sim, dia não, como diz a concessionária, estava ótimo", afirmou.

    Há sete meses em racionamento, Itu vem tomando medidas extremas para lidar com a falta de chuva. Além do abastecimento ter sido limitado a 10 horas a cada dois dias, o município resolveu vetar novos empreendimentos imobiliários para impedir o aumento do consumo.

    A concessionária de água do município, Águas de Itu, adquirida recentemente pela Águas do Brasil, informou em nota que, além da captação de água de poços e represas particulares, compra e injeta 3 milhões de litros de água por dia no sistema e ampliou o número de caminhões-pipa.

    Disse ainda que está construindo uma nova adutora, cujas obras devem ser concluídas em janeiro de 2015, "o que vai resolver o abastecimento da cidade".

    A reportagem não conseguiu contato com a Prefeitura de Itu. A cidade tem em torno de 165 mil habitantes, segundo o IBGE.

    Rafael Paco/Jornal Taperá
    Tropa de Choque é acionada durante protesto contra a falta de água na cidade de Itu, no interior de SP
    Tropa de Choque é acionada durante protesto contra a falta de água na cidade de Itu, no interior de SP

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