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    Crise da água

    Nascente do rio São Francisco secou, afirma diretor de parque mineiro

    PAULA SPERB
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    23/09/2014 17h52

    Pela primeira vez na história, a nascente do rio São Francisco, situada no Parque Nacional da Serra da Canastra, em Minas Gerais, está completamente seca.

    O acontecimento é simbólico, mas não significa, necessariamente, que o curso do rio será interrompido mais adiante.

    "Não afeta todo o rio porque ele é muito grande, tem outros tributários que vão ajudando a mantê-lo. A gravidade maior é a seca. É uma questão simbólica", diz o diretor do parque, Luiz Arthur Castanheira.

    Segundo Castanheira, a falta de água na nascente do rio, que tem 2.700 quilômetros de extensão e cuja bacia hidrográfica abrange seis Estados e o Distrito Federal, foi detectada por funcionários da unidade, que visitam o local diariamente. "O pessoal mais antigo aqui do parque está assustado [com a seca]", diz.

    O rio nasce a cerca de 1.200 metros de altitude, em um dos pontos mais altos do parque, que tem 200 mil hectares de área.

    A água brota de diversos "olhos d'água" e pequenos riachos que formam a nascente do Velho Chico, como o rio é afetuosamente chamado.

    "Se a nascente seca, [o rio] vai ficar com pouca água até o primeiro desaguar de outro rio [no São Francisco]", explica Wagner Soares, vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). Ele não soube dizer em que ponto isso ocorre.

    A estiagem rigorosa não afeta somente a nascente. A represa de Três Marias (a 224 km de Belo Horizonte), a primeira do São Francisco, está com a vazão crítica.

    Nesta terça-feira (23), o volume de água captado pela represa foi quatro vezes menor do que o liberado, segundo a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), e o reservatório opera com 5,7% de seu volume útil.

    "Não choveu a quantidade esperada, mas há a necessidade de manter a vazão para a energia elétrica, o que diminui o reservatório", explica Soares. "Precisamos trabalhar com as pessoas e com as empresas para que seja feito o uso racional da água."

    De acordo com o comitê, a previsão é que a situação seja normalizada com aumento no volume de chuva em meados de outubro.

    O Ministério Público Federal em Sete Lagoas (a 50 km de Belo Horizonte) investiga a situação do São Francisco e da represa. De acordo com a Promotoria, a estiagem está acima da média histórica, o que tem reduzido a quantidade de água liberada pela represa.

    A nascente do rio fica perto do município de São Roque de Minas (a 256 km de Belo Horizonte), mas a cidade vizinha de Medeiros também reivindica a nascente para seu território.

    INCÊNDIO

    O tempo seco também vem aumentando o número de focos de incêndio no parque –desde 20 de agosto, já foram registrados oito.

    O mais recente e mais grave ocorreu na sexta-feira (19), durou 48 horas e atingiu 10 mil hectares. Os campos próximos da nascente do São Francisco também foram afetados pelo fogo, segundo Castanheira.

    "Isso é o que é o mais triste.[A nascente] está tão seca que não conseguimos nem pegar água para apagar o incêndio", relata o diretor, segundo quem há fazendeiros ateando fogo na vizinhança do parque em plena época de seca.

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