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    Apesar de popular, ciclovia implantada por Haddad é alvo de crítica

    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    25/09/2014 02h00 Erramos: o texto foi alterado

    Desde o início deste mês, quando a Prefeitura de São Paulo implantou uma ciclovia na rua Cesário Ramalho, no Cambuci, no centro, um grupo de mães de jovens autistas tem um novo obstáculo numa rotina já difícil: parar os carros da rua para que seus filhos a atravessem.

    A cena se repete sempre que o transporte dos jovens não encontra vagas na região da AMA (Associação de Amigos do Autista), que rarearam após a implantação da via.

    "Antes tinha mais opção para parar. Agora a gente tem que desembarcar no meio da rua, parando em fila dupla", disse Vera Hernandes, 50.

    A dois quarteirões dali, a ciclovia fica bloqueada sempre no horário de entrada e saída de alunos de uma escola municipal. As peruas que antes paravam rente à calçada agora têm de estacionar no meio da rua para o desembarque dos alunos, alguns dos quais cadeirantes.

    As ciclovias se tornaram a principal bandeira do segundo ano da gestão do prefeito Fernando Haddad (PT).

    O projeto tem grande aprovação dos paulistanos –80% são a favor, de acordo com o Datafolha– e, ao que tudo indica, ajudou a elevar a popularidade do petista.

    Por outro lado, carrega consigo uma série de críticas, entre elas a de que sua implementação é feita sem consulta e desconsidera particularidades locais, como a da associação dedicada aos autistas e a escola do Cambuci.

    Desde abril, o secretário de Transportes da prefeitura, Jilmar Tatto, argumenta que numa primeira fase das obras de ciclovias o mais importante é implantá-las, mesmo que, futuramente, ajustes tenham que ser feitos.

    Apesar das constantes reclamações, para Maria Ermelina Malatesta, urbanista e especialista em planejamento cicloviário, cabe ao proprietário de determinado estabelecimento as adaptações necessárias para receber seus clientes ou visitantes.

    Vinícius Pereira/Folhapress
    Ciclovia no Butantã passa sobre calçada e tem como obstáculos uma árvore e um poste
    Ciclovia no Butantã passa sobre calçada e tem como obstáculos uma árvore e um poste

    "Esperar que a rua dê conta dessa demanda é o mesmo que privatizar um espaço que é público", diz ela.

    Em algumas áreas, as ciclovias foram feitas em locais onde funcionam feiras livres.

    "Ninguém me falou nada sobre a ciclovia. Montei minha barraca aqui, pois também pago imposto para a prefeitura", diz o feirante Carlos Augusto Pascoal, 44, há 12 anos no mesmo ponto.

    Nesses casos, a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) indica que o ciclista atravesse o trecho da feira a pé, empurrando a bicicleta.

    A companhia admite, porém, que esses casos estão em fase de adequação, que podem ser solucionados até com a mudança de endereço da ciclovia ou da feira.

    No Butantã, um longo trecho da ciclovia da avenida Politécnica ocupa a calçada e os ciclistas dividem espaço com pedestres.

    "É claro que com a ciclovia é mais seguro andar (de bike). Mas eu não consigo entender ter que disputar espaço com o pedestre. Não dá para tomar o espaço do pedestre", diz o programador Tomás Rangel, que usa a via para treinar ciclismo.

    A ciclovia tem buracos, desníveis e desvios para contornar os postes da via.

    Em um ponto, uma árvore ocupa 1,70m dos 2,80m de largura da via. Resta ao ciclista e ao pedestre apenas uma estreita passagem.

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