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    Crise da água

    Protesto contra falta de água reúne 400 pessoas na cidade de Itu (SP)

    LUCAS SAMPAIO
    ENVIADO ESPECIAL A ITU (SP)

    29/09/2014 18h39

    O terceiro protesto contra a falta de água em Itu (a 101 km de SP) em uma semana reúne cerca de 400 pessoas em frente à prefeitura no início da noite desta segunda-feira (29).

    A maioria dos manifestantes é formada por universitários e jovens, que estão com apitos, bumbos e faixas e gritam palavras de ordem contra o prefeito, Antônio Tuíze (PSD). Também há crianças, adultos e idosos no protesto.

    Até o início da noite, não houve confronto, mas uma pedra foi arremessada do meio da multidão em direção aos cerca de 70 guardas municipais e dez policiais militares que fazem um cordão de isolamento em frente ao prédio.

    Uma comissão de manifestantes foi recebida na sede da administração municipal pelo porta-voz do comitê de crise montado para monitorar a crise hídrica em Itu, Marco Antônio Augusto.

    Eles estão redigindo um documento a ser entregue ao prefeito pedindo mais transparência e participação popular no comitê de crise, instalado após quase oito meses de racionamento na cidade.

    Três coquetéis molotov foram apreendidos, segundo a guarda, mas ninguém foi detido. Os artefatos foram encontrados em um terreno baldio próximo à prefeitura.

    Após a pedra ser arremessada, a PM conversou com manifestantes e ativistas abraçaram guardas que fazem o isolamento da prefeitura para diminuir a tensão.

    Segundo Augusto, o prefeito não recebeu os manifestantes porque cumpre agenda em São Paulo.

    O porta-voz disse ainda que o comitê é "operacional", sobre a gestão da crise, mas não descartou uma eventual participação popular. "Estamos em uma situação de guerra", afirmou, sobre o abastecimento da cidade.

    Apesar de admitir a gravidade da situação, Augusto insiste que não será decretado estado de calamidade pública no município, principal reivindicação dos grevistas.

    O Ministério Público afirma que as medidas tomadas pela prefeitura são insuficientes e que, por isso, o decreto pedido pela Promotoria em julho continua a ser o mais indicado.

    "É o povo que está lá fora, é pai de família que leva criança na escola e não tem água em casa nem para fazer um café", afirma Inês Godi, 47, dona de casa que faz parte da comissão recebida pela administração municipal. "O povo está bravo porque o prefeito nunca nos recebe."

    A dona de casa Mônica Domingues, 32, apareceu no final da manifestação com as filhas Ana Beatriz, 9, e Maria Eduarda, 4. As meninas vestiam roupões e toca de banho.

    "Viemos protestar sem bagunça e sem violência. Somos do bem. Viemos cobrar na prefeitura porque são nossos funcionários e nós pagamos seus salários", disse Mônica, com um megafone em mãos.

    Mônica se emocionou ao contar que está há 15 dias sem água. "Comprei mil litros na semana passada para poder tomar banho. Estou há três dias sem lavar o cabelo."

    A pequena Ana Beatriz também deu sua opinião. "O prefeito é um chato porque não quer cuidar da cidade", disse.

    Tanto ela quanto a irmã estudam em escola pública. Segundo Mônica, a instituição pede para os alunos levarem pratos, copos e garrafa de água para economizar a água da escola.

    Por volta de 19h15, parte dos manifestantes se reuniu diante do condomínio onde mora o prefeito da cidade. Eles chegaram a forçar o portão de entrada, gritando: "Queremos água!" A polícia continuava acompanhando o protesto.

    A reportagem visitou três dos 17 locais com falta de água crônica na cidade nesta segunda. Moradores relataram ter recebido água no fim de semana depois de duas semanas "na seca". Alguns tiveram água na torneira e outros foram abastecidos por caminhões-pipa.

    Choveu na sexta-feira (26) e nesta segunda na cidade.

    OUTROS PROTESTOS

    Na semana passada, dois protestos terminaram em confronto. Na segunda-feira (22), cerca de 2.000 manifestantes protestaram em frente à Câmara Municipal e jogaram ovos, tomates e pedras contra o prédio. A Força Tática da PM interveio com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha.

    Na quinta (25), aproximadamente cem pessoas protestaram em frente ao comitê de campanha do ex-prefeito Herculano Passos (PSD), que comandou a administração municipal entre 2005 e 2012 e agora é candidato a deputado federal.

    Ativistas acusam Herculano de ser um dos responsáveis pela crise de água no município. O político foi responsável pela concessão do serviço de água e esgoto da cidade para a Águas de Itu, que recentemente foi adquirida pela Águas do Brasil –o processo de transição, no entanto, ainda não foi finalizado.

    O atual prefeito de Itu e o presidente da Câmara, Dr. Bastos (PSD), são do mesmo grupo político do ex-prefeito e foram secretários em sua administração.

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