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    Crise da água

    Mostra traz fotos e pinturas inspiradas na estiagem do sistema Cantareira

    HELOISA BRENHA
    DE SÃO PAULO

    03/10/2014 02h00

    Nua, coberta de lama, uma mulher coloca as mãos sobre o solo seco do reservatório Jaguari-Jacareí. Agachada, ela parece oferecer seu luto e sua reverência à maior represa do sistema Cantareira, quase esgotada pela crise hídrica.

    A imagem é uma das mais de 200 que serão expostas a partir das 15h deste sábado (4) na mostra "Raízes", no Paço das Artes, Cidade Universitária (zona oeste de São Paulo).

    Testemunho poético de uma das piores secas do Estado, a exposição reúne imagens captadas em julho, durante o Festival de Arte da fazenda Serrinha, em Bragança Paulista (a 85 km da capital).

    O evento, aberto ao público, reuniu ao longo de 21 dias um grupo –com fotógrafos, dançarinos, músicos e artistas visuais– às margens do principal manancial da região metropolitana de São Paulo.

    Muitos se hospedaram na fazenda para fazer oficinas, performances e instalações.

    "Todos ficavam abalados, mas também inspirados ao ver a represa. Era como buscar poesia no meio da hecatombe", diz Fabio Delduque, 44, um dos proprietários da Serrinha e curador da mostra.

    O choque foi particularmente grande para o fotógrafo paraense Luiz Braga, 57. "Para mim, que vivo na Amazônia, foi assustador. Eu já tinha feito um ensaio no rio Negro, com a água alagando a floresta, e em São Paulo me deparei com aquele deserto."

    Braga, que representou o Brasil na Bienal de Veneza de 2009 e tem obras no MAM e na Pinacoteca, passou uma semana na Serrinha, onde fez uma série de fotos noturnas.

    "À noite, a natureza ganha um viés surreal. Um desses momentos foi quando encontrei aquela [escultura de] sereia no meio da represa. Ela devia estar cercada de água, mas estava lá, abandonada, olhando aquela secura", diz.

    A estática Iara (no folclore, sereia de água doce) está entre as seis fotografias de Braga que foram ampliadas em painéis de um metro por 75 centímetros para a mostra.

    Fotos de outros artistas, filmes, desenhos e pinturas cobrem em mosaico outros 90 m² de paredes do Paço –todos marcados pela mesma obsessão com a represa seca.

    "Vou à Serrinha desde os anos 80. Foi um espanto e também uma dor vê-la assim", conta o escritor e artista visual Bené Fonteles, 61.

    Durante o festival, ele fez uma "arqueologia artística" no reservatório, resgatando cerâmicas, peças de olaria e outros itens da vida rural anterior à barragem. Transformados em instalação, os objetos integram a mostra.

    *

    'EXPOSIÇÃO RAÍZES'
    QUANDO de 4 a 19.out
    ONDE Paço das Artes - av. da Universidade, 1, Cidade Universitária, zona oeste de São Paulo
    QUANTO grátis
    CLASSIFICAÇÃO livre
    SITE www.pacodasartes.org.br

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