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    Suspeita de ebola forçou quarentena de 60 pessoas em hospital no PR

    JULIANA COISSI
    ENVIADA ESPECIAL A CASCAVEL (PR)
    LUIZ CARLOS DA CRUZ
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM CASCAVEL (PR)

    11/10/2014 02h00

    Quinta-feira, 18h40. Os vigilantes da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do bairro Brasília, em Cascavel (PR), se preparavam para ir embora quando receberam a ordem: ninguém entra, ninguém sai. Um paciente dali, o guineano Souleymane Bah, 47, era suspeito de ter ebola.

    "Não posso sair. Tem suspeita de ebola." Foi assim, por telefone, que Janeci Martins da Silva avisou o marido que não poderia dormir em casa aquela noite.

    Junto com Janeci, que estava com a irmã, 24 pacientes, 14 acompanhantes e 30 profissionais ficaram em quarentena forçada. Sem cama nem comida para todos, os que tinham condições de ter alta foram liberados apenas na manhã de sexta (10).

    O paciente de risco foi transferido às 6h, mas a unidade só reabriu às 13h para o público, após desinfecção.

    Parentes de pacientes contaram que mal puderam comer e dormiram em cadeiras. A advogada Carla Hommerding, 30, disse que a mãe, de 60 anos, que visitava seu avô, tem pressão alta e não recebeu alimentação adequada. "Só deram bolacha de sal."

    Quem chegava à UPA era orientado a buscar outra unidade. Com diarreia e vômito, Marcelo Silva, 22, bateu com a cara na porta na noite de quinta. "Só na TV é que ouvi falar dessa história de ebola."

    NA RECEPÇÃO

    O guineano chegou à UPA por volta das 10h de quinta. Bah fazia gestos, porque não fala português. Na triagem, ele não apresentava febre.

    Como não tinha sintomas, esperou com os demais pacientes na recepção. Ficou no saguão até as 14h, quando foi atendido por um médico.

    O atendimento durou cerca de uma hora. Com algumas palavras em inglês, o médico compreendeu que ele vinha da Guiné e havia tido febre. Diante do surto da doença na África, decidiu isolar Bah, o que só ocorreu às 15h.

    Segundo a Secretaria da Saúde de Cascavel, cinco profissionais tiveram contato direto com ele. Os demais internados e acompanhantes, diz a pasta, não se aproximaram da sala que Bah ocupou.

    Maria Soares Nunes, 72, que passou a noite com o marido internado, disse que o movimento de funcionários foi intensa. "Parecia que havia um leão na sala [isolada], de tanta preocupação deles."

    Pela manhã, os "aquartelados" começaram a ser liberados. Dez pacientes que tinham condições de receber alta deixaram a UPA. Os acompanhantes também foram para casa.

    Com luvas e roupas de proteção, funcionários limparam o saguão e salas da UPA. À tarde, foi higienizada a ambulância que transportou Bah até o avião.

    Todo o grupo alvo da quarentena será monitorado por uma equipe de saúde e terá a temperatura medida duas vezes ao dia, por 21 dias.

    Os moradores de Cascavel estão divididos entre a apreensão e a tranquilidade.

    O prefeito Edgar Bueno (PDT) aproveitou entrevistas a rádios e TVs para pedir a quem tivesse tido contato com o guineano que buscasse a rede de saúde.

    Funcionária de uma lanchonete no aeroporto, Lucimara Muhl cogitou não levar os dois filhos na creche. "A gente que tem bebê se assusta com isso", disse.

    Para a empresária Gislaine Clarice, é exagero. "Ainda é um caso suspeito."

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