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    Engenheiro de São Paulo inventa máquina que 'fabrica' água

    FELIPE SOUZA
    DE SÃO PAULO

    12/10/2014 02h00

    Falta de água, racionamento e calor são temas que preocupam o governo paulista nos últimos meses, em meio à maior crise hídrica da história. Para um inventor de Valinhos, a 85 km de São Paulo, a solução para esses problemas veio, literalmente, do ar.

    Engenheiro mecatrônico, Pedro Ricardo Paulino patenteou em 2010 a Wateair, máquina que faz água condensando a umidade do ar.

    A água produzida -que passa por um sistema de purificação que elimina as bactérias- é tão limpa que seu uso inicial foi em máquinas de hemodiálise. Para ser consumida, ela precisa passar por um segundo filtro, que adiciona sais minerais à solução.

    Tudo o que a Wateair precisa para funcionar é estar ligada na tomada. Quanto mais úmido estiver o ambiente, mais ela produz. Porém, se a umidade cair a menos de 10%, ela para de funcionar. Isso elimina o risco de deixar um ambiente fechado muito seco. No dia mais seco deste ano em São Paulo, o nível chegou a 19%.

    Veja vídeo

    SALGADA

    A contadora Maria Helena Castro, 31, comprou uma máquina em maio para suprir a falta d'água no sítio dela em Itu (a 101 km de SP).

    Ela desembolsou R$ 120 mil na versão que produz até mil litros por dia. "Tinha problemas com falta de água desde fevereiro. Hoje, crio minhas galinhas, porcos, coelhos e irrigo minha plantação sem dor de cabeça", diz.
    Maria Helena conta que o preço compensa e que ainda não precisou fazer nenhuma troca de filtro ou manutenção.

    O inventor explica que, como os componentes da máquina são importados e a demanda ainda é pequena, os custos são elevados. "Tudo é encomendado e praticamente não existe nada feito em linha de produção", afirma.

    Apu Gomes/Folhapress
    Pedro Ricardo Paulino posa com uma das versões de sua máquina em Valinhos; no detalhe, o menor modelo do aparelho
    Pedro Ricardo Paulino posa com uma das versões de sua máquina em Valinhos, no interior de SP

    A menor máquina, que produz 30 litros por dia com a umidade relativa do ar a 80%, custa R$ 7.000. A maior, que chega a 5.000 litros por dia, é vendida por R$ 350 mil.

    Segundo o criador, o gasto de energia elétrica para fazer um litro de água é equivalente a R$ 0,17 em São Paulo. Portanto, encher uma caixa d'água de mil litros custa R$ 170.

    A Sabesp cobra em média R$ 7,25 (incluindo a tarifa de esgoto) para distribuir a mesma quantidade a uma família de quatro pessoas. Ainda assim, o inventor diz que a procura pela máquina aumentou exponencialmente nos últimos meses.

    "Os clientes antes eram escolas ou pessoas que precisavam de água potável em menor quantidade. Agora, vendemos a restaurantes, produtores de remédios e outros prejudicados pelo fornecimento de água e pela dificuldade da captação por poços", diz.

    Segundo o engenheiro, um aparelho de ar-condicionado comum faz algo semelhante, mas produz água com metais pesados e bactérias.

    Paulino começou o projeto nos anos 1990, numa multinacional. Em 2006, passou a desenvolver a máquina com o próprio dinheiro. Quatro anos depois, conseguiu atestar a qualidade da água produzida e patenteou a Wateair.

    Para o inventor, o aparelho pode ser uma das soluções para a crise. "Máquinas como essa em escala gigante e a dessalinização da água do mar são opções para o futuro de São Paulo."

    Como funciona

    1 - Turbinas aspiram o ar para dentro da máquina

    2 - As moléculas de água são condensadas e tornam-se líquidas

    3 - Filtros e raios ultravioleta purificam a água

    4 - Outro filtro adiciona sais minerais

    5 - Pronta para ser consumida, a água é armazenada em um reservatório

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