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    MTST faz ato contra 'preconceito dos ricos' na Granja Viana, em SP

    ANDRÉ CABETTE FÁBIO
    DE SÃO PAULO

    11/10/2014 19h20

    Um grupo de sem-teto da ocupação Carlos Marighella, do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), na Granja Viana, região de Carapicuíba (Grande SP), fez um protesto na tarde deste sábado (11) por ruas do condomínio Chácara São João.

    O condomínio faz limite com a ocupação que, segundo organizadores, conta com 3.500 famílias. O ato foi "pela moradia popular e contra o preconceito dos ricos" que moram na região e chegou a mil pessoas segundo o MTST. A Polícia Militar contou 500 pessoas.

    O ato começou às 14h30 e teve participação de crianças a idosos, que exibiam faixas com dizeres como "pela moradia digna já. Chega de despejos."

    A reportagem contou nove viaturas policiais, que ficaram próximas à entrada do condomínio e não interferiram no ato. A PM não registrou nenhum conflito.

    A estudante e organizadora do MTST Agnes Karoline, 22, que prefere não revelar seu sobrenome, aponta como um dos motivos para o ato a tentativa na semana passada dos moradores de levantar um muro no lugar de um portão que dá acesso da ocupação a uma rua que cruza o condomínio.

    "Isso ia isolar a ocupação da favela Ana Estela, e pais não iam ter como levar os filhos na escola". Parte das pessoas que participam da ocupação residem na favela, diz.

    Outro motivo para o protesto é a suposta pressão dos moradores da Granja Viana para inviabilizar um acordo entre a ocupação, o proprietário do terreno e a Prefeitura de Carapicuíba.

    De acordo com Agnes, o dono disse numa reunião de conciliação na quarta-feira (8) que entrou com a ação de reintegração de posse após sofrer pressão de uma promotora ligada aos moradores, mas que tinha interesse em resolver o problema através de negociações.

    "Fizemos esse 'rolezinho' na Granja Viana porque os moradores têm preconceito contra os pobres", disse Agnes. De acordo com a militante, o Ministério Público teria sido responsável por barrar a proposta da Prefeitura de construir banheiros químicos para atender os manifestantes, argumentando que isso legitimaria a ocupação.

    O pedreiro Luciano Evangelista, 33, que participou do ato, diz que ganha pouco e tem dificuldades para pagar o aluguel de R$ 650 da casa onde mora. Ele vive há 15 dias na ocupação enquanto sua mulher e três filhos continuam na casa alugada. "Fazia tempo que eu queria participar de uma ocupação e vim quando um amigo me chamou. Quero sair do aluguel", diz.

    Agnes também acusa a polícia de realizar ações ostensivas no local para amedrontar os manifestantes e afirma que seguranças armados têm constrangido as famílias.

    A reportagem conversou com um segurança privado que estava no local. Ele, que preferiu não se identificar, disse que, apesar de também prestar serviços de segurança privada, é policial. Desde o início da ocupação, o número de seguranças foi de dois para quatro no período noturno, e "só os policiais, que já têm porte de arma, andam armados", diz.

    Ele afirma que, desde o início da ocupação, houve um roubo à mão armada de um Ford Ecosport. Além disso, um Ipanema roubado teria sido localizado no dia 8 nas ruas do condomínio. No dia 9, uma motocicleta roubada foi encontrada. "Isso não é normal", afirmou.

    Duas moradoras que preferiram não se identificar reclamam do aumento da circulação de pessoas pelo condomínio. "Se fosse só gente boa, estava bom, mas é um problema, porque já houve assaltos e ameaças. Meu vizinho já viu pessoas consumindo drogas", disse uma delas, que se identificou como advogada, mas não revelou o nome.

    Agnes, do MTST, classifica as acusações como improcedentes e absurdas. "Temos um regimento interno que proíbe drogas e crimes, e dizer que a ocupação é responsável por algum aumento de roubos é preconceituoso", afirma.

    A babá Ana Gleice Alves, 25, que participou da manifestação, diz que seu objetivo era mostrar que a ocupação é "da paz". Ela e a mãe participam do movimento, mas ainda mantêm o aluguel de um barraco por R$ 400 por mês numa favela nas proximidades.

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