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    Último parquinho a céu aberto de São Paulo resiste na periferia

    LEANDRO MACHADO
    DE SÃO PAULO

    12/10/2014 02h00

    Havia poucos brinquedos, mas o parque precisava de um nome fantasia –aqueles que piscam na entrada.

    "Tem que falar agora, seu Miguel, para registrarmos. Você não tem uma mulher, um filho? Coloca o nome do seu filho", sugeriu o funcionário da Junta Comercial.

    Miguel Cerreti, naquele momento de 1974, pensou: "Já tenho um filho, mas minha mulher está grávida. Vai ser uma menina, a Marisa". Parque Marisa, resolvido.

    O parquinho, que na época cabia em dois caminhões, existe até hoje em Itaquera (extremo leste), e é o mais antigo de São Paulo, segundo a Adibra (associação brasileira de parques de diversão).

    É o último, a céu aberto e fixo. Impostos altos e falta de terrenos determinaram o fim dos parques, diz a entidade.

    Hoje está maior, mas não chega a ser um Playcenter, que já foi o maior parque da cidade e fechou em 2012, para dar lugar a prédios.

    Há 29 anos, o parque está em Itaquera. Recebeu gerações de crianças da zona leste. "Da Penha a Guaianases, todo mundo veio aqui", diz Miguel, 62.

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    Guilherme Cassine, 11, em brinquedo no parque Marisa
    Guilherme Cassine, 11, em brinquedo no parque Marisa

    Na quinta, ele se apressava para deixar tudo bonito para o Dia das Crianças –maior movimento do ano.

    Um dos funcionários mais antigos, Fernando do Nascimento, 38, testava o carrinho de bate-bate. "Tem que ficar perfeito." Ele faz há 17 anos a manutenção do brinquedo.

    Há também montanha-russa, carrossel e trem-fantasma. A entrada é grátis; cada atração custa em média R$ 3.

    O mais concorrido é o Kamikaze, que, por um problema técnico, não funcionará neste domingo (12). Azar dos destemidos que formavam fila para enfrentar a vertigem de ficar de cabeça para baixo.

    Mas tem maçã do amor e roda-gigante para os apaixonados."Muitos casais se conheceram aqui. Alguns voltam para a foto do casamento."

    O pior momento do parque foi em 2008, quando um garoto morreu num acidente, ao cair de um brinquedo. Na Justiça, Miguel foi inocentado –mas ele pagou indenização de R$ 200 mil à família.

    MARISA NÃO EXISTE

    Há dois anos, outro revés: o parque Marisa quase saiu de Itaquera porque a prefeitura ergueu um viaduto bem em cima. "Fiquei apreensivo. Não queria sair daqui", diz.

    O parque andou 100 metros para o lado, em um terreno alugado. Não perdeu público: em fins de semana sem chuva, recebe 7.000 pessoas.

    "Não sei bem por que faz sucesso. Acho que as pessoas estão sentido falta de um parque de verdade", diz Miguel.

    Guilherme, 11, de Itaquera, quer ir todo fim de semana. Ama o Kamikaze.

    Quando escolheu o nome do parque, Miguel quis homenagear a filha que sua mulher esperava. "Tinha certeza de que era menina. Na época, ninguém fazia ultrassom."

    Nasceu um menino, também Miguel. Hoje com 40 anos, ele ajuda o pai a cuidar de Marisa, o parque.

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