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    Mesmo em áreas centrais de SP, queixa de falta de água é comum

    ANDRÉ MONTEIRO
    ARTUR RODRIGUES
    DE SÃO PAULO

    12/10/2014 02h00

    Na porta dos banheiros do bar Lekitsch, na praça Roosevelt, região central de São Paulo, um aviso diz: "Desculpe o transtorno".

    Não se trata de nenhuma obra ou privada entupida, mas um alerta de que há "racionamento a partir das 21h".

    "A Sabesp suspende o fornecimento de água da região. O banheiro fica em situação de calamidade", diz um dos sócios, Silvio do Carmo, 45.

    Segundo a presidente da Sabesp, Dilma Pena, lugares altos, longe dos reservatórios e sem caixa d'água adequada são os que podem ser afetados pela redução de pressão. Só 1% a 2% da população é atingida, diz.

    O estabelecimento de Carmo fica na região central, em área que não é alta. Há três meses, ele comprou duas caixas d'água de mil litros para aliviar o problema, que, afirma, se repete toda noite.

    "Mesmo assim, no fim da noite, a água acaba", diz ele, que também passou a estocar água em recipientes.

    Zé Carlos Barretta/Folhapress
    Silvio do Carmo colocou placa no banheiro do bar avisando sobre desabastecimento
    Silvio do Carmo colocou placa no banheiro do bar avisando sobre desabastecimento

    A Folha achou outros locais em regiões que não se encaixam no perfil descrito pela presidente da Sabesp.

    Na Casa Verde (zona norte), a academia R.White passou a comprar carros-pipa para evitar transtornos aos clientes. "Senão, a caixa não daria conta", diz Fabiano Porsato, 42, diretor da academia.

    "Mesmo com a caixa [de 5.000 litros], um dia chegamos de manhã em agosto e não tinha água nenhuma."

    Porsato afirma acreditar que o problema é em toda a cidade. "Tem dia que chego em casa à noite e não tem água no chuveiro", diz o morador do Limão, zona norte.

    Na zona oeste, relatos de falta de água à noite pipocam em ruas baixas de bairros como City Lapa e Butantã.

    A maioria das casas conta com caixa d'água, o que garante os banhos de noite ou pela manhã. Mas, como as torneiras da cozinha e da área de serviço geralmente são ligadas diretamente na rede da Sabesp, moradores contam que fica difícil cozinhar e lavar louça ou roupa de noite.

    Alice Mourão, 61, que mora na City Lapa, diz que as torneiras começam a secar por volta das 20h. Ela diz não ter reclamado à Sabesp porque já percebeu que o problema é generalizado. "Mas o filtro da cozinha é ligado na rua. Quando a água acaba, tenho que sair e comprar garrafas no mercado para beber."

    Para o engenheiro Alceu Bittencourt, da Abes (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental), ligar torneiras direto na rede é comum. "As pessoas procuram aproveitar a pressão maior na cozinha ou na lavanderia. Mas isso deveria ser uma alternativa, o ideal é ter as saídas mais importantes conectadas à caixa d'água.", afirma.

    Para Jorge Giroldo, mestre em hidráulica e professor da FEI, a torneira ligada à rede serve para alertar quando falta água e o consumidor tem só o volume armazenado.

    OUTRO LADO

    A Sabesp diz que, "além de ter a caixa d'água, é imprescindível que os imóveis tenham suas conexões hidráulicas conectadas ao reservatório, como determina a norma da ABNT [Associação Brasileira de Normas Técnicas]".

    Sobre a situação do bar Lekitsch, a empresa afirma que visitou o local às 20h de quinta (9) e, "de acordo com o número de clientes naquele momento, a caixa d'água citada parece ser insuficiente".

    Silvio do Carmo afirmou que técnicos da Sabesp o informaram que havia apenas diminuição de fluxo. "Eu disse que não, que a torneira seca mesmo", rebate.

    Em outros sete endereços em que moradores dizem faltar água à noite, a Sabesp diz que técnicos constataram haver pressão normal.

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