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    Suspeito de mortes em Goiânia trata vítimas por número, afirma polícia

    JULIANA COISSI
    DE ENVIADA ESPECIAL A GOIÂNIA

    17/10/2014 02h00

    O delegado Douglas Pedrosa, que presidiu o interrogatório do suspeito de uma série de assassinatos de mulheres em Goiânia, diz que foi surpreendido nos primeiros minutos do depoimento.

    "Qual o nome da primeira mulher que você matou?", indagou. "Não foi mulher. Foi um homem", respondeu o vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, 26.

    Nem os 150 policiais civis da força-tarefa que investigava havia 70 dias a série de homicídios na capital de Goiás, neste ano, esperavam pelo desfecho de terça (14), quando o suspeito foi detido.

    Segundo a polícia, o vigilante confessou não apenas os 16 crimes investigados, mas um total de 39 homicídios desde 2011.

    Editoria de arte/Folhapress

    O delegado diz que o suspeito, num depoimento de seis horas, relatou ter matado suas vítimas a tiros, facadas e esganamento.

    Já o advogado dele, Thiago Vidal, afirma que seu cliente nega os crimes e só os assumiu porque ficou com medo no interrogatório.

    Segundo o relato do delegado, Rocha falou de cabeça erguida e foi objetivo nas respostas. Incomodou-se com a presença de policiais mulheres, que saíram da sala.

    Em vez de nomes das vítimas, como os de Lilian, Bárbara e Ana Lídia, o suspeito preferiu enumerá-las. "Perguntávamos das mulheres, e ele dizia: Qual é o número? Ah, vítima nº 3, vítima nº 5'".

    Ao localizar o número na memória, narra o delegado, Rocha fechava os olhos e ficava calado, com um sorriso no rosto. Minutos depois, trazia pormenores de cada crime, como dia, local e arma.

    VÍTIMA NÚMERO 1

    Pela confissão, segundo a polícia, a vítima número um é Diego Martins Mendes, 16. Em 2011, o vigilante teria abordado Diego, pensando que ele fosse gay, na rodoviária. Ainda pelo relato da polícia, o preso o convenceu a ir a um matagal para fazer sexo. O ato não se consumou, segundo Rocha, mas Diego foi esganado. O corpo dele nunca foi localizado.

    Outros dois homens foram as próximas vítimas: um ex-colega de trabalho, morto a facadas, e um rapaz de olhos azuis que, assim como o primeiro, Rocha pensou ser gay. Ele também foi esganado.

    Os alvos seguintes foram prostitutas e moradores de rua. "Ninguém se importaria com eles", disse Rocha, de acordo com a polícia.

    Chamou atenção dos investigadores que mulheres comuns, como as mortas neste ano, tenham sido em sua maioria alvejadas no peito. "Elas não tinham por que levar tiro na cabeça, ele explicou", disse Pedrosa.

    Rocha disse à polícia que era movido pela necessidade de matar e a comparou a um vício. "Eu tenho raiva do mundo", disse ao delegado.

    Admitiu ainda 90 roubos a lotéricas, farmácias e padarias. Disse que roubava para sentir "adrenalina".

    Preso na terça, o vigilante foi apresentado pela Polícia Civil na manhã de ontem (16). O clima era de comoção. Familiares de mulheres mortas neste ano gritaram "assassino" e se desesperaram.

    De acordo com a Polícia Judiciária de Goiás, o vigilante tentou se matar na madrugada, cortando os pulsos com uma lâmpada quebrada.

    Colaborou CARLA GUIMARÃES, em Goiânia

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