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    Família questiona laudo que aponta que jovem morto na USP usou drogas

    REYNALDO TUROLLO JR.
    ROGÉRIO PAGNAN
    DE SÃO PAULO

    17/10/2014 02h00

    A família do estudante Victor Hugo Santos, 20, morto após ir a uma festa no campus da USP, em 20 de setembro, disse que vai questionar o laudo do IML que afirmou que o jovem morreu afogado após consumir droga.

    "Ele havia bebido cerveja, segundo os colegas, e não foi encontrado álcool [no corpo]. Isso causa estranheza", afirma o advogado da família, Ademar Gomes.

    "Eles [peritos] falam, no início, em droga, e o laudo conclusivo foi de afogamento. Mas o menino sabia nadar. A família confirma que ele era um bom nadador", afirma.

    O laudo do IML que deve orientar a polícia sobre o que aconteceu com Santos aponta que ele consumiu a substância 25B-NBOMe, mas que a morte foi causada por um afogamento, conforme a Folha revelou na quinta (16)

    O NBOMe é uma nova droga sintética, similar ao LSD, que provoca alucinações.

    O corpo do rapaz foi encontrado na raia olímpica da USP, na zona oeste, na manhã de 23 de setembro –três dias após seu desaparecimento.

    Editoria de Arte/Folhapress

    SOZINHO, NÃO

    Os amigos que estavam com Santos no evento, realizado pelo Grêmio Politécnico, disseram à polícia que ele sumiu após ir buscar cerveja sozinho, por volta das 5h.

    "Nós entendemos que a polícia deve ouvir novamente as pessoas que já foram ouvidas, que estavam com ele na festa", afirma o advogado.

    A respeito da hipótese de que o estudante possa ter ido sozinho até a raia olímpica e, em meio a alucinações, caído na água, Gomes é taxativo: "A família não acredita nessa hipótese".

    Para a advogada Roselle Soglio, especialista em perícias criminais que analisou o laudo a pedido da Folha, faltam ao documento detalhes que expliquem melhor como, de fato, aconteceu o afogamento –como sinais característicos desse tipo de morte.

    Um desses sinais, por exemplo, seria o chamado "cogumelo de espuma", que costuma se formar em corpos de vítimas de afogamento.

    Além disso, segundo Soglio, a perícia deveria ter confrontado a água eventualmente encontrada nos pulmões com a água da raia da USP. "Ele pode ter morrido numa piscina e ter tido o corpo jogado ali", exemplifica.

    A advogada trabalhou em casos como o dos Nardoni e o de Marcelo Pesseghini.

    Diante da falta de sinais característicos de afogamento, uma possibilidade seria o chamado "afogamento branco de Parrot" –caso raro que não deixa tais sinais. Mas o laudo não faz menção a isso.

    NOVA DROGA

    Vendido a cerca de R$ 35 a unidade, o NBOMe provavelmente chegou ao Brasil há dois anos e costuma ser confundido com outra droga, o LSD, mais conhecido no país. Não há estudos nacionais sobre seus efeitos.

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