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    Festa universitária faz publicidade de cigarro em SP; Anvisa diz ser ilegal

    LEANDRO MACHADO
    ANGELA BOLDRINI
    DE SÃO PAULO

    19/10/2014 02h00

    A indústria tabagista descobriu um filão publicitário tão atraente quanto –segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária)– ilegal: a propaganda em festas universitárias.

    Voltados a jovens de classe média, os eventos atraem milhares de potenciais consumidores em uma faixa etária em que essa indústria vem perdendo terreno.

    "Qualquer forma de propaganda de produtos do tabaco é irregular", informa, em nota, a agência. "Apenas a exposição dos produtos nos pontos de venda está permitida".

    No dia 7 de outubro, a Folha observou a presença de banners da marca Marlboro em todos os ambientes de uma festa na Barra Funda, zona oeste, mas não havia venda de cigarros no local.

    Realizado pelo diretório acadêmico do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), o evento reuniu 2.000 jovens.

    Segundo organizadores, as empresas pagam até R$ 10 mil em patrocínio dos eventos.

    O material de divulgação da "Festa do Branco", do diretório acadêmico da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), mostra que ela foi patrocinada pela Lucky Strike, da Souza Cruz.

    Guilherme Wolf, 22, aluno da USP e sócio da produtora Taj, que organizou o evento, diz que a indústria tabagista é uma das que mais demonstra interesse nas festas.

    Mas nem só de baforadas vive esse tipo de publicidade. A indústria de bebidas, por exemplo, patrocina 86% das festas de atléticas, segundo pesquisa da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).

    De acordo com Viviane Rodrigues, 29, sócia da agência B2, especializada nesses eventos, uma estratégia das empresas para burlar a lei é colocar vendedores "à paisana". "Promotores ficam com uma mochila e abordam as pessoas para fazer a venda", diz.

    Gustavo Tavares, 19, estudante e membro do centro acadêmico da ESPM, diz que as marcas contratam pessoas "para conversar com os alunos", mas nega que haja venda de cigarro nas festas.

    Para Paula Johns, da ACT (Aliança de Controle do Tabagismo), as empresas de cigarro visam essas festas para atingir um público "preferencial", entre 18 e 24 anos.

    O cigarro vem perdendo terreno nessa faixa etária: em 2008, 20% dos jovens de São Paulo entre 16 e 24 anos fumavam, contra 14% em 2013, segundo pesquisa do Datafolha.

    A Souza Cruz, fabricante da Lucky Strike, diz que não faz patrocínios desde 2000.

    Já a Philip Morris, que produz o Marlboro, confirma que patrocinou a festa do Insper, mas diz que "segue rigorosamente a legislação vigente."

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