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    Após 90 anos, ave da América do Norte é vista em Guarapiranga, em SP

    EDUARDO GERAQUE
    DE SÃO PAULO

    19/10/2014 02h00

    Apesar de sempre ser associada à poluição, a represa de Guarapiranga, na zona sul de São Paulo, trouxe uma grata surpresa para o biólogo Fabio Schunck no mês passado.

    "Depois de uma chuva forte, fui até o parque Praia São Paulo ver se tinha aparecido algum maçarico. Essas aves descem para se proteger das tempestades. Cheguei lá e vi o bichinho, foi incrível e emocionante", relata.

    Sem acreditar direito, Schunck, que é ligado ao museu de Zoologia da USP, fez imagens históricas.

    Há 90 anos, o maçarico-branco avistado por ele não era registrado na capital. Na última vez, no século passado, a ave estava no bairro do Ipiranga que, na época, ainda tinha muitas áreas naturais, além do famoso riacho.

    Fabio Schunck
    A ave da espécie maçarico, que vem da América do Norte e foi vista na represa de Guarapiranga, em SP, após 90 anos
    A ave da espécie maçarico, que vem da América do Norte e foi vista na represa de Guarapiranga, em SP, após 90 anos

    "Com certeza essa ave não ficou sumida. Ela deve ter aparecido por aqui, mas ninguém documentou".

    O pequeno pássaro faz todos os anos o caminho da América do Norte para a América do Sul, pelo litoral.

    Mas quando o tempo fecha perto do oceano, ele busca refúgio no continente.

    O mesmo maçarico fotografado pelo biólogo chegou a ser visto no dia seguinte, mas, depois, continuou sua rota de migração.

    "Faltam pesquisadores nesta área. Como moro próximo à represa, acabei dando essa sorte", comemora.

    Desde 2004, ele monitora as aves migratórias da Guarapiranga. À época eram conhecidas seis espécies, entre maçaricos e batuíras.

    Hoje, muito por causa do empenho do estudioso das aves, existem 16 espécies catalogadas como migratórias. Nove foram identificadas pelo trabalho de Schunk.

    "Mesmo sendo uma região muito ocupada e com poucas áreas naturais, locais como a Guarapiranga são extremamente importantes e estratégicos como ponto de parada, descanso e alimentação destas aves migratórias que chegam da América do Norte todos os anos, mesmo com a poluição", conta.

    Apesar da chegada das aves todos os anos à capital, os obstáculos enfrentados em terra não são poucos.

    Sem áreas protegidas, apesar da recente criação de parques municipais no local, os banhistas de fins de semana expulsam as aves.

    E os cachorros sem dono acham nos bichos que voaram milhares de quilômetros, e por isso estão debilitados, uma fonte fácil de alimento.

    "A prefeitura deveria dar uma maior atenção para a região", diz Schunk.

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    Nome científico: Calidris alba
    Tamanho: 18 cm a 20 cm
    Peso: 40 g a 100 g
    Alimentação: Pequenos caranguejos e outros invertebrados
    Migração: Viajam entre 3.000 e 10 mil km. Deixam locais de reprodução no Ártico entre julho e setembro e retornam para o norte em março

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