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    Tatuadores revelam histórias dos desenhos escolhidos por seus clientes

    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    26/10/2014 02h00

    Há quem acredite que o símbolo matemático do infinito, por alguma razão, deva ser tatuado no próprio punho. Há outros que dizem ter descoberto numa escrita tribal antiga da Polinésia o significado da vida e resolvem eternizá-lo no peito.

    Desvendar as histórias por trás de tatuagens de famosos e anônimos é o tema do livro Pen & Ink, lançado neste mês, nos Estados Unidos.

    Com tarefa semelhante, a reportagem da Folha esteve em uma convenção de tatuadores no último domingo, em São Paulo, em busca das histórias escondidas por trás das tatuagens brasileiras.

    "FREE AS A BIRD"

    Durante 40 anos, quase ninguém viu seu Pedro de mangas curtas. Ele achava horrível a tatuagem em seu braço direito, feita nos anos 60 de maneira amadora.

    Aos 65 anos, Pedro já era um senhor de longa barba branca, quando procurou um tatuador. Pediu que o antigo desenho fosse coberto por um belo pássaro cantador.

    Desde então, o homem passou todas as tardes de sol na pracinha do bairro, de mangas dobradas, exibindo seu pássaro que parecia se mexer conforme dobrava o cotovelo.

    "Depois disso, ele não parou mais de se tatuar", conta Canela, o tatuador responsável pelo desenho.

    FLORES E MAQUIAGEM

    Weimer Carvalho/Folhapress
    Rosi Ramos, 38 anos, diz que a tatuagem mudou sua auto-estima completamente
    Rosi Ramos, 38 anos, diz que a tatuagem mudou sua auto-estima completamente

    Um quadro de escoliose fez com que Rose Ramos, 38, tivesse que passar por uma delicada cirurgia aos 14 anos.

    A cicatriz, que vai do quadril à nuca, passou a ser escondida por camisetas e blusas. "Eu tinha vergonha que alguém me perguntasse sobre a cicatriz", diz Rose.

    A marca da cirurgia foi coberta por flores e borboletas. "Eu redescobri meu corpo", relata.

    "Eu nunca a tinha visto de maquiagem e de blusinhas que mostrassem as costas. Só vi depois da tatuagem", diz Jander Vilela, autor do desenho.

    ONDE NINGUÉM VÊ

    Na Brasília dos anos 80, um jovem acordou com uma ideia fixa: se o céu da boca tinha esse nome, nada mais justo do que enchê-lo de estrelas.

    Inácio da Glória, 62, um dos mais antigos tatuadores em atividade no país, recebeu o pedido um pouco atônito.

    "Eu não sabia nem como faria para desenhar dentro da boca do rapaz", diz ele.

    Depois de horas de sessão, o jovem saiu do estúdio encostando a língua no Cruzeiro do Sul e as Três Marias.

    UM METALEIRO NO PARÁ

    Ernesto Rodrigues/Folhapress
    A paixão pelo Pará foi tamanha que o engenheiro Bruno Silva, 32, tatuou a bandeira do Estado no braço
    A paixão pelo Pará foi tamanha que o engenheiro Bruno Silva, 32, tatuou a bandeira do Estado no braço

    Bruno Silva, 32, era conhecido por detestar qualquer estilo musical que não fosse heavy metal.

    Foi assim até que a empresa em que trabalha o mandou para uma viagem pelo Pará.

    "Aí, o metaleiro caiu no tucupi", disse o tatuador Fabio Satori sobre o cliente. A paixão foi tamanha que ele tatuou a bandeira paraense em seu braço.

    "Hoje em dia eu até brigo com quem fale mal de carimbó ou techno-brega", diz Bruno.

    CONTRA A ALERGIA

    Quando Fabio Greco descobriu que tinha uma alergia severa a uma lista enorme de remédios, buscou socorro em um estúdio de tatuagem.

    Tatuou em português, em inglês e em italiano a inscrição: "Alérgico a remédios", sobre a veia do braço direito. "Numa eventual emergência, eu não serei tratado como um paciente comum, eu ficarei em observação", diz ele.

    "Esse tipo de tatuagem é comum também entre pessoas que têm diabetes para sinalizar que podem precisar de insulina", diz o tatuador Sérgio Maciel, conhecido como Led's e 'salvador' de Greco.

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