"Mudou!" Os redatores de agências de publicidade em São Paulo tremiam quando ouviam a palavra ser proferida pelo chefe Carlos Calia nos anos 1980 e 1990.
Era com essa pegadinha, sobre uma possível alteração em qualquer trabalho que estivesse em andamento, que ele costumava entrar nas salas para conversar com seus funcionários.
Apesar de alegre e falante, Calia era um chefe rígido. Irritava-se quando os colegas não lhe ouviam por estarem usando fones de ouvido e chegou até a proibir o uso do apetrecho no escritório.
Redator, diretor de criação e executivo de diversas agências do mercado brasileiro, como Ogilvy & Mather e McCann, ele buscava inspiração para suas peças em viagens, filmes, livros e músicas.
Não andava com papel e caneta nos bolsos e, quando tinha uma ideia, saia correndo atrás de algo onde pudesse anotá-la. Era comum, inclusive, acordar à noite para escrever. Apesar do empenho em mais de três décadas na profissão, nunca levou trabalho para a casa.
Paulistano do Cambuci, Calia conheceu a mulher, Alice, em 1971, em um ônibus. Com ela e as filhas, foi mais de 20 vezes à Disney, nos EUA. Dizia gostar daquele ambiente "cheio de pessoas felizes". Era palmeirense, jogava tênis e promovia campeonatos de jogo de botão.
Comia pouco, exceto quando ficava diante de pratos italianos, que adorava. Calia sofria de mal de Alzheimer e morreu aos 72 anos na quinta-feira (23), em decorrência de uma infecção generalizada. Deixa a mulher, duas filhas e três netos.