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    Policial aposentado cria museu sobre crimes que investigou

    FELIPE SOUZA
    DE SÃO PAULO

    26/10/2014 02h00

    Joel Silva/Folhapress
    O policial civil aposentado Milton Bednarski, 85, montou um museu com historias de crimes em São Paulo
    O policial civil aposentado Milton Bednarski, 85, montou um museu com historias de crimes em SP

    Curitiba, 5 de agosto de 1967. Três policiais civis de São Paulo invadem uma pensão e prendem João Acácio Pereira da Costa, o famoso Bandido da Luz Vermelha.

    Ele foi condenado por 88 crimes, entre assassinatos, tentativas de homicídios e roubos. Ficou preso por 30 anos e foi morto quatro meses após deixar a prisão.

    Hoje, o policial civil aposentado Milton Bednarski, 85, delegado responsável por prender o criminoso mais temido da época, se lembra com detalhes do momento de sua carreira de que tem mais orgulho.

    "Estávamos há uma semana na cola dele. Ele era magrinho, mas brigou como uma fera e bateu em nós, que revidamos. Até o [investigador] Saúva, que era boxeador, apanhou", lembra.

    A história foi contada à Folha num escritório abarrotado de livros, recortes e suvenires policiais no Bom Retiro, centro de São Paulo. Além de ser o curador do Museu do Crime, da Associação dos Investigadores da Polícia Civil, na Luz, centro, Bednarski usa a sala para manter seu próprio acervo.

    No local, ele mostra a réplica da cabeça de Luz Vermelha, que descansa sombria na prateleira ao lado de estátuas de santos e uma caveira.

    Aposentado há 32 anos, ele diz ter se afastado das delegacias. "Não ando bom de saúde por causa de três tiros que levei. Pelo menos consegui prender mais de 600 bandidos em 35 anos de carreira."

    O disparo que levou no baço quase tirou sua vida.

    Eram 19h de um domingo em março de 1972, e Bednarski passava sozinho pela esquina das ruas Sólon e Graça, no centro da capital paulista. De repente, viu uma menina pedindo socorro ao ser jogada dentro de um carro por dois homens.

    "Começou um tiroteio. Matei os dois bandidos, mas levei um tiro no baço que me deixou sequelas", afirma.

    Segundo ele, havia outro policial na cena do crime, que não ajudou a vítima. "Ele já morreu e que Deus o ponha em um bom lugar, mas era um puta de um cagão. Policial não tem folga. Se vê um crime, vai impedir."

    Bednarski fica um pouco chateado ao se lembrar que quase prendeu o esquartejador Chico Picadinho.

    "Ele tinha matado Margareth Suida na rua Aurora. Cheguei com a minha equipe meia hora depois dele ter sido preso. Dez anos depois, ele matou outra mulher na [avenida] Rio Branco com a Duque de Caxias (centro) e também cheguei em segundo lugar."

    Por mais que gostasse, a carreira lhe trouxe problemas. Em 1963, ficou 30 dias longe de casa devido a buscas. Revoltada, a mulher de Bednarski pensou em divórcio.

    "Ela até me ligava, mas na polícia a ordem é dizer: estamos em diligência. Onde? Não sei'. Voltei com meu terno em farrapos, barbudo e cabeludo. O importante é que trouxe dois bandidos presos."

    Mas ele diz que nunca pensou em sair da polícia.

    Hoje, Bednarski é advogado da associação de policiais e se entristece ao falar da condição em que os colegas trabalham. "Estão desmotivados e mal pagos. A sociedade não os reconhece e os próprios organismos os perseguem constantemente."

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