Desde criança, o cantor e compositor Renato Teixeira, 69, via a mãe e as tias cantando nos corais de igrejas e observava peregrinos que passavam por Santos, onde ele nasceu, e Ubatuba, cidade onde viveu até os 12 anos.

Mas foi quando passou parte da sua adolescência em Taubaté, a 140 km de São Paulo, que ficou impressionado com homens que caminhavam durante dias carregando cruzes nas costas rumo à Basílica de Aparecida, a 180 km da capital paulista.

Apesar de católico e autor da canção "Romaria", Teixeira afirma que não é religioso, mas admirador da cultura do interior paulista.

	Davi Ribeiro/Folhapress
	O cantor e compositor, Renato Teixeira foi o idealizador da Trilha da Imaculada

Ele planeja criar a Trilha da Imaculada, uma rota turística e religiosa que atravesse o Vale do Paraíba, entre Caçapava e Guaratinguetá, passando por Taubaté, Tremembé, Pindamonhangaba, Roseira e Aparecida.

A ideia é inspirada no caminho de Santiago de Compostela, percurso que atrai milhares de peregrinos todos os anos na Espanha.

A nova rota consiste num caminho com aproximadamente 65 km para romeiros que atualmente andam pela rodovia Presidente Dutra em direção a Aparecida.

Segundo Teixeira, o diferencial da trilha seria a construção de um trecho exclusivo para pedestres, cavaleiros e quem faz esse tipo de percurso em veículos sem motor.

Nas cidades, os peregrinos ou turistas teriam indicações de pontos culturais e históricos, como igrejas do século 17 e museus. O projeto prevê parcerias com pousadas, lojas de conveniência e restaurantes ao longo do trajeto.

"As pousadas dariam hospedagem gratuita e pagariam os custos cobrando pelas refeições e vendendo souvenires", diz Teixeira. "É uma ideia para os romeiros, mas também para quem quer conhecer a história do Estado."

Entre as atrações estão o convento Santa Clara, construído no século 17, e o Museu Monteiro Lobato, casa onde o escritor nasceu em Taubaté. São locais que atualmente recebem turistas, mas que, em alguns casos, carecem de reformas e sinalização.

Hoje, quem vai até os pontos do roteiro tem dificuldade em achar alguns deles por falta de indicações e corre o risco de encontrá-los fechados, como aconteceu com a reportagem na Capela de Nossa Senhora d'Ajuda, em Caçapava.

Quem vive do turismo na área aprova a ideia. "O pessoal não valoriza mais a cultura. Há atividades que podem sumir", diz Michele Sampaio, 26, artesã da Casa do Figureiro, centro cultural em Taubaté.

Por enquanto, o projeto da Trilha da Imaculada está no papel. Renato Teixeira trabalha em parcerias com universidades para traçar esse mapa e fazer o levantamento histórico dos pontos turísticos.

Depois, o cantor deve procurar o apoio do governo do Estado e do cardeal Raymundo Damasceno de Assis, arcebispo de Aparecida.

O padre José Renato, da arquidiocese de São Paulo, diz que a ideia é interessante. "Se tiver uma rota com segurança, melhor", afirma.

Ele mesmo já caminhou de São Paulo até Aparecida em grupos de 130 peregrinos. "Em muitas partes íamos por dentro das cidades, mas em outros trechos tínhamos que andar pela Dutra".