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    Pilotos sequestrados há 40 dias em Mato Grosso são libertados

    DHIEGO MAIA
    DE SÃO PAULO

    30/10/2014 15h55

    Dois pilotos brasileiros mantidos reféns na Bolívia havia cerca de 40 dias foram libertados do cárcere privado na terça-feira (28). Eles chegaram a Cuiabá nesta quinta-feira (30), onde reencontraram os familiares.

    O piloto Evandro Rodrigues de Abreu e o copiloto Rodrigo Frais Agnelli trabalhavam para Janete Riva (PSD), que disputou o governo de Mato Grosso no primeiro turno das eleições.

    Segundo a polícia, os pilotos foram sequestrados em 20 de setembro no aeroporto de Pontes e Lacerda (a 359 km de Cuiabá) e forçados a voar para a Bolívia. A aeronave continua desaparecida.

    Os dois contaram que foram abordados por dois suspeitos, que os obrigaram a voar até o país vizinho por cerca de uma hora. "Eles apontaram a arma [na nossa direção]. Eram dois brasileiros", recorda Agnelli.

    Abreu disse que pilotou a aeronave em outras duas viagens pelo espaço aéreo boliviano, quando tiveram de mudar de cativeiro. Durante o cárcere privado, afirmaram, não sofreram agressões, mas houve dia em que só comeram arroz.

    Segundo os pilotos, os sequestradores montaram um esquema para vender o avião roubado na Bolívia. Durante a negociação, disseram, o possível comprador enviou três mecânicos até o último cativeiro, onde permaneceram por mais tempo, para descaracterizar o avião.

    Eles relatam que foram libertados no momento de maior tensão, conta Abreu. "A negociação entre eles [sequestradores e comprador] demorou muito e no final se desentenderam com o preço. Os sequestradores fizeram os mecânicos reféns, e a gente pediu que nos deixassem ir."

    Nesse momento, um dos sequestradores disparou: "Sigam o seu coração e façam o que vocês querem fazer", recorda o piloto.

    As vítimas disseram que caminharam em uma região de mata e por uma estrada desconhecida durante dois dias. Eles também conseguiram caronas ao longo do caminho. E só ligaram para a família quando tiveram certeza de que estavam em solo brasileiro.

    O primeiro contato ocorreu às 22h [horário de Brasília] de quarta-feira (29), em Guajará-Mirim (RO), que também faz fronteira com a Bolívia. Na cidade, eles procuraram a Polícia Militar local para informar o ocorrido.

    "Ele contou que os sequestradores simplesmente os libertaram e devolveram os celulares, as roupas e disseram que eles precisavam ir", disse, aliviada, Márcia Maria Pinheiro de Abreu, mulher de Abreu.

    "É muito bom rever a família e os amigos, a emoção é grande, só pensava neles. Você não consegue pensar em mais nada, não lembra de computador e celular. Pensamos que íamos morrer, várias vezes", disse Abreu.

    INVESTIGAÇÕES

    Os dois devem prestar depoimento à polícia na sexta-feira (31). A polícia boliviana também coopera com as investigações.

    O delegado de Pontes e Lacerda, Gilson Silveira do Carmo, disse inicialmente que suspeitava que os autores do crime fossem narcotraficantes bolivianos. Ele não descarta a hipótese de a aeronave ter sido roubada para dar apoio ao tráfico de drogas na região de fronteira.

    "Nessa região esse tipo de crime é intenso. Eles roubam aeronaves para o tráfico", disse.

    SEQUESTRO

    No dia 20 de setembro, piloto e copiloto deveriam ter partido do aeroporto de Pontes e Lacerda para o município vizinho de Vila Bela da Santíssima Trindade.

    Eles levariam a então candidata Janete Riva e o marido dela, José Riva (PSD), mais o então candidato a senador Rui Prado (PSD). Só que, quando os três chegaram ao aeroporto, não encontraram nem a aeronave nem os pilotos.

    O avião com prefixo PR-ATY, modelo C90GT, está registrado na Anac como propriedade de Berf Participações. Segundo a assessoria de Janete Riva, o avião foi adquirido em modalidade de leasing, e o seguro está em nome de Floresta Viva, empresa da família Riva.

    CAMPANHA ELEITORAL

    Janete tornou-se candidata em 12 de setembro no lugar de José Riva, que teve a candidatura barrada pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

    Riva é considerado o maior ficha suja do país porque responde a 107 processos, incluindo um sobre suposto esquema de desvio de recursos da Assembleia Legislativa de Mato Grosso.

    Nas urnas, Janete Riva obteve 10% dos votos válidos e ficou na terceira colocação. O governo do Estado será comandado pelo senador Pedro Taques (PDT), eleito no primeiro turno com 57% dos votos.

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