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    Crise da água

    Reúso de água passa a ser rotina de moradores da Grande SP durante seca

    REGIANE TEIXEIRA
    DE SÃO PAULO

    01/11/2014 02h00

    Em uma semana de altas temperaturas e com o reservatório do sistema Cantareira operando com 12,4% de sua capacidade até sexta-feira (31), os moradores da capital e de cidades da Grande São Paulo têm cada vez mais improvisado para economizar água.

    Quem passa pela seca ou busca um desconto na conta anda desenvolvendo técnicas de redução do consumo que envolvem de reúso da água do cachorro a tomar uma ducha diariamente no trabalho.

    Além do bônus que concede redução de 30% para quem atingir o patamar de 20% de economia, entra em vigor neste mês dois novos descontos da Sabesp. Quem conseguir reduzir o consumo de 10% a 14,9%, ganhará um desconto de 10% na conta. Se o consumo cair de 15% a 19,9%, a redução será de 20%.

    Lalo de Almeida/Folhapress
    O publicitário Deco Boaretto guarda água do banho da filha na cidade de Osasco, Grande SP
    O publicitário Deco Boaretto guarda água do banho da filha na cidade de Osasco, Grande SP

    Desde o início da crise hídrica, o publicitário Deco Boaretto, 34, se impôs a meta de reduzir sua utilização de água em 20%. "Até a água dos cachorros que antes eu jogava fora agora uso para molhar as plantas", conta ele, que mora em Osasco e há dois meses têm pagado uma conta menor.

    Atitudes como tomar banho com uma bacia embaixo do chuveiro e guardar a água da máquina de lavar roupa para usá-la na limpeza da casa e na descarga viraram rotina em muitas casas.

    No caso de José Antônio Filandi, 51, a medida é essencial para que ele, a mulher e os três filhos consigam se manter com o que estocam em uma caixa de 500 litros –suficiente para um dia.

    Lalo de Almeida/Folhapress
    José Antônio Filandi e seus filhos Raul, 5, e Sophia, 6, na região de Tremembé (zona norte)
    José Antônio Filandi e seus filhos Raul, 5, e Sophia, 6, na região de Tremembé (zona norte)

    A família mora no Tremembé, zona norte, que fica a oito quilômetros de distância da Estação Guaraú, responsável pelo tratamento de água do sistema Cantareira. Mesmo assim, eles ficaram quase três dias inteiros sem abastecimento. "Tivemos que ir tomar banho na casa da minha sogra", conta.

    Morador da Brasilândia, zona norte, o tecelão Elton Ricardo da Silva, 35, tem tomado banho no trabalho porque quando chega em casa a água acabou e quando sai, ela ainda não voltou. "Melhor prevenir, já que eu não tenho caixa d'água", diz.

    Na Bela Vista, região central, a dona de casa Rilza Rodrigues, 44, interditou o vaso sanitário do banheiro da filha para economizar. "Menti e disse para ela que estava entupido. Assim ela usa o outro banheiro, onde estamos economizando na descarga.

    Zé Carlos Barretta/Folhapress
    Rilza Rodrigues checa as caixas d'água do prédio à noite na região da Bela Vista, no centro de SP
    Rilza Rodrigues checa as caixas d'água do prédio à noite na região da Bela Vista, no centro de SP

    No dia 14 de outubro, o prédio onde ela mora com o marido, que é síndico, ficou sem uma gota d'água. Quando o abastecimento voltou, diversos apartamentos ficaram alagados porque os moradores esqueceram as torneiras abertas.

    "A água que acumulou nas caixas foi toda embora e ficamos sem de novo. Depois disso, o porteiro passou a ligar para todos os apartamentos pedindo para as pessoas fecharem as torneiras quando há corte", diz. Nos dias seguintes, eles começaram a fechar a água do condomínio à tarde para que as caixas enchessem e os moradores pudessem tomar banho no final do dia.

    A dona de casa afirma ter feito uma reclamação na Sabesp, mas foi informada de que o abastecimento estava regular. Procurada, a empresa afirma que visitou os endereços da reportagem nesta sexta-feira e constatou que o fornecimento de água estava normal no momento.

    Segundo a empresa, o número de reclamações de falta d'água registradas na sua Central de Atendimento diminuiu em 2014 em relação ao ano passado.

    Mesmo com o abastecimento normalizado, Rilza e o marido seguem aflitos. "Todas as noites vamos ver se as caixas d'água estão cheias. Virou uma paranoia."

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