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    Químico inventa pó que reduz evaporação de água em represas

    ANDRÉ MONTEIRO
    DE SÃO PAULO

    03/11/2014 02h00

    Em meio à crise hídrica que esgota rapidamente os reservatórios do Sudeste, um pesquisador tenta viabilizar a produção comercial de um composto que reduz as perdas de água por evaporação.

    Dependendo do tamanho da represa e das condições climáticas, o fenômeno natural leva embora parcela significativa da água armazenada.

    Na represa Jaguari-Jacareí, por exemplo, a maior do sistema Cantareira, a evaporação estimada quando seu espelho d'água está em condições normais (50 km²) é de 45 bilhões de litros por ano.

    Esse volume representa quase a metade do segundo volume morto usado pela Sabesp -reserva abaixo do nível de captação. Com mais calor e menos água, a taxa de evaporação sobe.

    O produto criado pelo engenheiro químico Marcos Gugliotti, 44, consiste em um composto de calcário e surfactantes, substâncias usadas em cosméticos e obtidas de fontes como óleos vegetais e cera de abelhas.

    Quando aplicado na água, o pó se espalha e cria uma película ultrafina que "protege" a represa. "Ele reduz as ondulações naturais na superfície, o que diminui a área exposta à evaporação", afirma.

    Em testes controlados, seu composto chegou a frear a perda de água em até 50%.

    Editoria de Arte/Folhapress

    O inventor afirma que o produto não causa impacto ambiental, pois é atóxico e biodegradável. Análises mostraram que ele não altera a potabilidade da água.

    "Também não interfere na vida aquática e nem altera o regime de chuvas", diz.

    Gugliotti conta ter criado o pó em 2004, durante pesquisas feitas na USP, ao estudar propriedades de filmes ultrafinos (com espessura de apenas uma molécula) que já eram usados no exterior.

    Sua inovação, diz, foi ter conseguido chegar a uma formulação que, ao contrário dos concorrentes, não tem componentes tóxicos.

    Com a fórmula pronta, obteve financiamento de R$ 304 mil da Fapesp (agência paulista de fomento à pesquisa) para testar a viabilidade da invenção. Diz ter chegado a um modelo em que a produção e aplicação têm custos compensados com folga pelo valor da água poupada.

    O desafio científico se revelou o menor dos problemas. Nos últimos seis anos, conta ter participado de 150 apresentações e recebido pedidos do Brasil e do exterior, mas ainda não conseguiu parceria com nenhuma indústria para fabricar o pó.

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