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    Crise da água

    Água distribuída em caixas gigantes em Itu é imprópria para consumo

    LUCAS SAMPAIO
    ENVIADO ESPECIAL A ITU (SP)

    11/11/2014 11h50

    A água distribuída em áreas públicas de Itu (a 101 km de SP), como as caixas de água gigantes espalhadas pela cidade para aliviar a crise hídrica, é imprópria para consumo, segundo estudo da ONG Caminho das Águas e do Ceunsp (Centro Universitário Nossa Senhora do Patrocínio).

    As amostras foram colhidas em cinco pontos da cidade no fim de outubro. Os testes, feitos no laboratório do Ceunsp, apontaram que 100% delas estavam contaminadas com coliformes totais (resultante de decomposição de matéria orgânica), coliformes fecais (resultante de fezes de animais) e bactérias resistentes à temperatura.

    "A água distribuída apresenta índice de contaminação microbiológica acima do permitido, sendo inapropriada para consumo humano", diz o estudo, que elenca entre possíveis consequências de seu consumo problemas de saúde como diarreia, esquistossomose, cólera e vermes intestinais.

    A ONG vai coletar novas amostras, por seis semanas consecutivas, até o começo de dezembro. Esse resultado é referente ao primeiro lote coletado.

    Segundo Carlos Diego de Souza Rodrigues, diretor da ONG, o estudo não tem como objetivo acusar a prefeitura nem a Águas de Itu (concessionária de água e esgoto do município). "Estamos focados na água que o morador pega. Até chegar nos pontos emergenciais de distribuição, ela sofre contaminação. As pessoas, quando pegarem essa água, têm de tratá-la", afirma.

    A ONG está testando um kit para análise de água, com custo de R$ 25, que será distribuído à população ao final do estudo. Enquanto isso, recomenda a adição de duas gotas de água sanitária sem alvejante por litro de água, ou a fervura por cinco a dez minutos. "Isso vai garantir que a água tenha os critérios mínimos de potabilidade", diz Rodrigues.

    "Uma coisa é ficar sem água, mas usar água contaminada?", questiona Flávio José Ambrósio, 59, tapeceiro que mora em frente à caixa de água gigante do Jardim Aeroporto –um dos locais de coleta de amostras– e que chegou a ficar mais de 30 dias sem água nas torneiras. "Não tem condições."

    Nesta segunda-feira (10), diz Flávio, funcionários da Águas de Itu esvaziaram a caixa, que estava cheia. "Alguma coisa errada tem. Senão eles não vinham tirar a água."

    No mesmo dia, a reportagem esteve em quatro pontos públicos de distribuição –Parque Aeroporto, Parque Industrial, São Jorge e praça dos Exageros–, e em nenhum deles havia água, ao contrário do que dizem prefeitura e Águas de Itu.

    "Tive bolinhas por dentro da pele depois de tomar banho com essa água", afirma a dona de casa Lourdes Flora Ribeiro, 63, que utilizou a água da caixa gigante do Parque Industrial. A água de lá não foi analisada. "Aí passei a tomar banho quente e comprei um sabonete antisséptico. Fiquei com medo."

    'QUALIDADE ATESTADA'

    Questionada, a Prefeitura de Itu informou que exige, via agência reguladora municipal, que a qualidade da água fornecida pela Águas de Itu seja comprovada por laudos.

    Por sua vez, a concessionária disse que atesta, "com base em análises de seus laboratórios e de terceiros acreditados pelo Inmetro, a qualidade e potabilidade da água despejada nos reservatórios instalados emergencialmente em espaços públicos".

    O Ministério Público Estadual, que investiga a crise hídrica em Itu, considera "grave" a conclusão do estudo.

    "Desde o início nossa preocupação principal é com a saúde da população", diz a promotora de Justiça Maria Paula Pereira da Rocha, que pretende incluir o material no inquérito civil que apura a qualidade da água na cidade.

    Devido à escassez de chuva, a população de Itu enfrenta racionamento de água desde fevereiro deste ano.

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