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    Professores e pesquisadores divulgam nota sobre relatos de abusos na USP

    DE SÃO PAULO

    14/11/2014 21h51

    Professores e pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva USP (Universidade de São Paulo) divulgaram nesta sexta-feira (14) uma nota de repúdio sobre os relatos de abuso sexual na universidade. Eles se colocam à disposição para apoiar os alunos que fizeram as denúncias.

    O departamento informa que defende medidas para evitar os abusos e confia nos professores e estudantes que se comprometeram a não admitir mais nenhuma situação de violência ou discriminação.

    A Folha mostrou na edição desta sexta-feira que o médico patologista Paulo Saldiva, 60, que presidia a comissão que apura as denúncias de abuso sexual na USP, pediu afastamento da instituição nesta quarta (12).

    Ele está de licença-prêmio (90 dias de licença sem prejuízo dos vencimentos), mas diz que deixará o cargo de professor titular que ocupa na universidade desde 1996.

    A decisão veio após audiência pública na Assembleia Legislativa em que foram relatados oito casos de violência dentro da USP, entre os quais dois de estupro em festas organizadas na universidade.

    Em entrevista à Folha, Saldiva afirma que "cansou de engolir sapo" e que o escândalo foi a "gota d'água" para sua saída, embora existam outras causas como o desejo de parcerias com outras universidades, o que é vetado hoje pelo regime de trabalho na USP (dedicação exclusiva).

    Leia na íntegra a nota divulgava pelo Departamento de Medicina Preventiva USP:

    Nós, professores e pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva vimos a público expressar nossa indignação diante dos casos de violação de direitos, discriminação e violências ocorridos na Faculdade de Medicina da USP.

    Também estamos consternados com o fato de não termos estado cientes de toda essa situação e portanto falhado em proteger os mais vulneráveis e mesmo já estarmos atuando para prevenir tais situações.

    Os fatos demonstram recorrentes abusos morais, físicos e sexuais, banalizados e praticados em estrutura hierárquica. Manifestamos nossa total solidariedade às vítimas e defendemos uma série de intervenções para mudar essa situação.

    Iniciamos declarando nosso total e fundamental apoio aos alunos que, corajosamente, tornaram públicas as violações.

    Apoiamos o trabalho sério e competente que foi realizado até agora pela Comissão contra Violência, Preconceito e Consumo de Álcool e Drogas da FMUSP e confiamos na aprovação do seu relatório pela Congregação. E sabemos que ora apenas se inicia um longo e paciente trabalho para uma nova cultura institucional.

    Depositamos nossas expectativas e esperanças na decisão do diretor da Faculdade, Prof. Auler, de criação do Centro de Defesa dos Direitos Humanos da FMUSP, que prevê ouvidoria, apoio às vítimas, responsabilização dos autores, campanhas de promoção dos direitos humanos e iniciativas de boa convivência.

    Saudamos o compromisso assumido pelos alunos e por suas diversas formas organizativas (Coletivos, CAOC, Atlética e Show Medicina), comprometidos em não mais admitir nenhuma manifestação ou ato de violência e discriminação.

    Presentes na sociedade, a violência sexual, o assédio moral, a homofobia e o racismo afetam não só a FMUSP, mas também diversas Universidades do Brasil e do mundo. Infelizmente, são ainda escassas no País as iniciativas para reconhecer e combater essas violações aos Direitos Humanos no ambiente universitário.

    São urgentes e necessárias mudanças que sintonizem a Universidade com valores sociais de respeito às diferenças e boa convivência na pluralidade de indivíduos, com consequente formação de médicos adequados ao que a sociedade brasileira espera, profissionais capazes de unir a competência técnica com a ética e o respeito aos direitos humanos.

    CAMPANHA

    Funcionários da USP têm feito um protesto silencioso em apoio as vítimas de estupro, homofobia e racismo dentro da universidade. Nesta semana, alunas relataram na Assembleia Legislativa os abusos sofridos durante festas da Faculdade de Medicina da USP.

    A funcionária da USP, Diana Assunção, 29, diz que a ideia é dar apoio as vítimas e acabar com o silêncio que existia dentro da faculdade sobre o assunto."Foi quebrado o pacto de silêncio que existia na faculdade. Isso precisa ser discutido para lutarmos contra toda a forma de opressão", comenta Diana.

    "A ideia é ampliar a campanha e que os casos sejam denunciados. Os agressores não podem ficar impunes", diz Diana, que é diretora do Sintusp (sindicato dos funcionários da USP).

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