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    Assassino confesso de 39 mulheres em Goiânia era calmo, diz amante

    VALDIR SANCHES
    colaboração para a FOLHA, em GOIÂNIA

    23/11/2014 02h00

    Weimer Carvalho/Folhapress
    Mulher passa em frente a casa onde morava o serial killer Tiago Henrique Gomes da Rocha, 26
    Mulher passa em frente a casa onde morava o acusado de assassinatos Tiago Henrique da Rocha

    Tiago Henrique Gomes da Rocha era um menino loirinho, de franjinha, olhos claros. "Já nasceu lindo", dizia-se na família. O "serial killer" de Goiânia tem agora 26 anos, cabelos e olhos castanhos, 1,98 m de altura, porte atlético. Nada lhe falta para atrair mulheres.

    Atacou 16 moças em locais públicos. Não as seduziu, violentou e matou, como outros assassinos em série. Chegou, atirou e se foi. Mata para extravasar uma "raiva" que o domina, diz a polícia (ainda não foi avaliado por peritos).

    Em matéria de sexo, na verdade, é tranquilo. C.R., sua vizinha, traiu o marido para tornar-se sua amante. Diz que, nos momentos íntimos, ele pedia calma. No armário do quarto de Tiago, trancado a cadeado, a polícia encontrou, entre vários objetos, uma boneca inflável.

    Alan Marques/Folhapress
    O vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, que confessou 39 mortes
    O vigilante Tiago Henrique Gomes da Rocha, que confessou 39 mortes

    Em seus ataques, mirou a cabeça ou o peito. Não errou um tiro. É verdade que há quatro anos fez um curso de vigilante armado. Aprendeu a manejar um revólver calibre 38, igual ao que usaria para matar. O curso é necessário para quem quer empregar-se na profissão -trabalho que exercia quando assassinou as 16 moças, segundo confessou, de janeiro a agosto deste ano. As mortes, 39 no total, começaram em 2012.

    Para o emprego, a lei exige ter sido aprovado em exames de saúde física, mental e psicotécnico. O "serial killer" passou nos exames.

    Uma característica marcou-o desde a infância. Sempre foi calado, introspectivo. Estranho, dizem alguns. "Fica na dele", definem outros. Colegas de trabalho dizem que não olhava diretamente para as pessoas.

    Nasceu e viveu no Vera Cruz II, conjunto de moradias populares criado em 1979, na periferia de Goiânia. Em junho de 2013, morava com a mãe em uma casa muito simples, nos fundos da moradia principal. Nesta, viviam C.R., uma técnica de segurança no trabalho, de 30 anos, e o marido, de 46.

    As casas tinham área de serviço comum, e dois tanques, um ao lado do outro. Muitas vezes C.R. lavava roupa em um deles, Tiago em outro. "Fomos conversando, ele ouvia mais do que falava", diz ela. Além disso, o rapaz boa pinta entrava na casa da vizinha para usar o computador. "Ficava assistindo a filmes de humor."

    Ela estranhava a maneira de viver do vizinho. "Não tinha vida social, um caso amoroso, não ia em festa." Acabou descobrindo que ele bebia vodca e pinga, em casa; escondido da mãe, evangélica.

    "É um cara bonito, vai envolvendo a gente." Mostrou-se "atencioso, prestativo". Levava-a de moto a lugares a que precisasse ir.

    "Foi muita amizade, quando vi já estávamos envolvidos em sexo", diz.

    Como aconteceu? O "serial killer" agarrou a vizinha no tanque e a beijou. "Depois trocamos beijos e abraços durante um mês. Em uma manhã [eram 8h30, o marido saíra para o trabalho], eu estava no sofá de casa, ele olhou para mim e entendi. Levantei e fui para a cama, ele atrás."

    Na cama, era "tímido, calmo". "Ele pediu para eu fazer movimentos mais calmos."

    A mãe de Tiago descobriu o caso, passou a pressionar C.R. "Achei melhor desistir", afirma ela. Diz que Tiago ficou três meses fora, e voltou para a mãe. Agora não cumprimentava a ex-amante, tratava-a com rispidez. Mas não a agrediu, nem ameaçou.

    C.R., por sua vez, reagiu. "Sentei com meu marido, contei tudo. Ele entendeu, resolvemos esquecer o passado." Mudaram para outra casa, na mesma rua. Tiago e a mãe continuaram na casa dos fundos, até ele ser preso, em 14 de outubro.

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