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    IPTU vira problema para donos de imóveis tombados

    EMÍLIO SANT´ANNA
    DE SÃO PAULO

    30/11/2014 03h50

    Ciete Silverio/Folhapress
    Casarão do Belvedere, na Bela Vista, tem IPTU de R$ 30 mil; com reajuste do imposto, tributo vai a R$ 35 mil
    Casarão do Belvedere, na Bela Vista, tem IPTU de R$ 30 mil; com reajuste, tributo vai a R$ 35 mil

    Paulo Goya, 63, tem uma conta a fazer. Em oito anos de funcionamento, o Casarão do Belvedere consumiu R$ 700 mil entre reformas e manutenção. Fechado há um ano, R$ 500 mil são necessários para a troca completa do telhado que ameaça cair. Para o IPTU, ele precisa reservar outros R$ 30 mil por ano.

    Precisava. Porque, para seu desespero, essa conta vai subir. Tombado pelo patrimônio histórico municipal, o imóvel da família do ator, de 1927, fica em uma das áreas mais valorizadas para o cálculo do reajuste do imposto.

    Na última quarta-feira (26), o Tribunal de Justiça liberou a gestão do prefeito Fernando Haddad (PT) para aplicar aumentos no IPTU.

    De acordo com anúncio feito pela prefeitura, os percentuais de aumento terão tetos de 15% para imóveis residenciais e de 30% para imó-
    veis comerciais.

    Na Bela Vista, bairro da região central da cidade, o aumento médio do IPTU em 2015 será de 12,1%. Caso o cálculo do reajuste seja feito exatamente com esse percentual, lá se vão outros R$ 3.630.

    Goya diz que não é contra o reajuste e entende a necessidade de a prefeitura equilibrar a arrecadação. Contudo, contesta a aplicação do imposto em imóveis tombados.

    "Isso vai cair na cabeça de quem tem um imóvel tombado em uma área completamente degradada como a Bela Vista e que vai ficar pior com a verticalização", afirma.

    Para Regina Monteiro, conselheira do Movimento Defenda São Paulo, é preciso desburocratizar as regras de isenção do imposto e discutir medidas de incentivo fiscal. "Em outros lugares do mundo, os proprietários praticamente 'se matam' para ter o imóvel tombado, tamanhos os benefícios. Aqui é o contrário", diz.

    A impossibilidade de o proprietário fazer qualquer mudança no imóvel sem autorização do órgão de patrimônio histórico é um dos problemas, além do custo para a manutenção, aponta Goya.

    Ele não sabe ao certo quando o local poderá voltar a receber apresentações artísticas. "Esses R$ 30 mil ajudariam bastante para pelo menos começar a recuperar o telhado e voltar a trabalhar."

    Ciete Silverio/Folhapress
    Paulo Goya, proprietário do Casarão do Belvedere que é tombado como patrimônio
    Paulo Goya, proprietário do Casarão do Belvedere que é tombado como patrimônio

    INQUILINOS

    Na mesma Bela Vista, mas em área bem mais valorizada que o Belvedere, a casa que pertence ao empresário Ronaldo Silva Rego é taxada anualmente em R$ 77 mil.

    Construída em estilo colonial português no início do século passado, a família do empresário para lá se mudou após vender outra casa que passou a fazer parte da antiga mansão Matarazzo, na esquina da avenida Paulista.

    Tombada desde 2013, a casa ficou vazia por quase um ano à espera de um inquilino disposto a arcar com o aluguel acrescido do valor do IPTU.

    Em 2008, foi alugada para empresa que criou ali a Funeral Home, espaço com "atmosfera tranquila" para velórios.

    "Graças a Deus estou locando a casa e, segundo o contrato, o IPTU é pago pelo inquilino", diz o empresário. "Mas se ele sair de lá, eu terei que arcar com esse valor."

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