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    Quase dois anos após tragédia, começa limpeza na boate Kiss

    FELIPE BÄCHTOLD
    DE PORTO ALEGRE

    02/12/2014 12h38

    Começou nesta terça-feira (2) uma operação de limpeza do interior do prédio da boate Kiss, em Santa Maria (RS), onde um incêndio provocou a morte de 242 pessoas em janeiro de 2013.

    Técnicos contratados pela empresa proprietária do imóvel vão recolher fuligem e destroços que podem conter resíduos tóxicos gerados pelo fogo. No ano passado, uma análise de resíduos feita pelo Centro de Referência em Saúde do Trabalhador apontou a presença no local de ao menos 17 substâncias químicas nocivas à saúde.

    Durante a limpeza, a fachada da boate e o telhado serão revestidos com lonas para evitar a disseminação da poeira tóxica. A rua em frente à casa noturna permanecerá interditada enquanto durar o trabalho, que pode se estender por mais de uma semana. Na manhã desta terça, começou a montagem da estrutura de proteção no local.

    A empresa dona do imóvel, a Eccon Empreendimentos, não pertence aos donos da boate, que alugava o prédio, mas a Justiça gaúcha a obrigou a realizar o procedimento de limpeza devido ao risco ambiental. A Eccon afirma que vai levar os resíduos a um local que não cause danos ao meio ambiente e dará a destinação adequada.

    O custo total da operação é estimado em R$ 100 mil. A empresa pretende buscar o ressarcimento das despesas, junto aos réus que respondem pelas mortes na Justiça.

    Dois sócios da casa noturna, o vocalista da banda Gurizada Fandangueira e o produtor do grupo ficaram quatro meses detidos em 2013 e são acusados de 242 homicídios. O processo ainda está na fase de audiências com testemunhas.

    O prédio da casa noturna, no centro do município, está fechado apenas com tapumes e permanece praticamente da mesma maneira que estava logo após a tragédia.

    Grande parte do interior do prédio ainda está intacto, já que o fogo não chegou a atingir todos os cômodos. As vítimas morreram porque entraram em contato com uma fumaça tóxica liberada pela queima de uma espuma usada como revestimento acústico.

    Três familiares de vítimas pediram à Justiça para entrar no local para procurar pertences. O juiz responsável disse que a Fundação de Proteção Ambiental do Estado deve avaliar a viabilidade do pedido e analisar a possibilidade de agrupar objetos encontrados na operação de limpeza para a entrega aos parentes. Na semana da tragédia, documentos e telefones celulares que estavam no prédio foram recolhidos pela polícia.

    O futuro do local onde ocorreu a tragédia é incerto. Familiares das vítimas defendem a desapropriação para a construção de um memorial aos mortos. A empresa proprietária afirma que, por enquanto, o imóvel está sob responsabilidade da Justiça.

    O início do processo de limpeza foi protelado ao longo deste ano. Segundo o juiz responsável, desde março de 2014, quando peritos do Estado coletaram mostras no local, o procedimento já estava liberado. No mês passado, quando o começo do trabalho foi novamente adiado, a empresa proprietária argumentou que havia entraves burocráticos junto ao Judiciário.

    Mas o Tribunal de Justiça nega. A dona do imóvel afirma que a demora ocorreu devido às licenças ambientais e à complexidade do projeto que precisou ser elaborado para a operação, que mobiliza cinco empresas.

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