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    Polícia Civil de SC diz que não é crime ter suástica em propriedade privada

    JEFERSON BERTOLINI
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM FLORIANÓPOLIS

    09/12/2014 15h50

    A Polícia Civil de Santa Catarina informou que não é crime manter uma suástica em propriedade particular porque não configura apologia ao nazismo.

    O símbolo formado com azulejos na piscina da casa de um professor de Pomerode (a 155 km de Florianópolis) foi encontrado no último dia 2. "Não tem apologia, não tem rede social, não tem absolutamente nada de ilegal nessa história", explicou o delegado Luiz Carlos Gross.

    Policiais avistaram a suástica ao sobrevoar a área de helicóptero em busca de suspeitos de sequestrar o marido de uma gerente de banco. Pomerode, com 30 mil habitantes, se apresenta como "a cidade mais alemã do Brasil" por causa do grande número de descendentes que vivem no local.

    A piscina está instalada no jardim da casa do professor de história Wandercy Antônio Pugliese, que já foi investigado por manter símbolos nazistas em sua casa. A suástica foi desenhada com azulejos escuros, que contrastam com o azul claro predominante da piscina.

    Divulgação/Polícia Civil
    Polícia descobre piscina com suástica em casa de SC durante busca por suspeitos de sequestro
    Polícia descobre piscina com suástica em casa de SC durante busca por suspeitos de sequestro

    Pela lei brasileira, a fabricação, comercialização, distribuição ou veiculação de peças com a suástica "para fins de divulgação do nazismo" são passíveis de pena de até cinco anos de prisão.

    Em 1998, o Ministério Público Federal recolheu na casa do professor objetos com a suástica, revistas, fotos e quadros do exército alemão. Pugliese chegou a ser denunciado por racismo, mas o processo foi arquivado por falta de provas.

    O professor tentou reaver os objetos na Justiça alegando que o material fazia parte de uma coletânea sobre a história mundial utilizada para estudos, e não para divulgação de ideias nazistas. Mas, em 2001, o TRF (Tribunal Regional Federal) negou seu pedido.

    Wander, como é chamado pelos alunos, trabalha em escolas particulares de Santa Catarina. Desde a divulgação das imagens, ele tem mantido a rotina e evitado falar com a imprensa.

    Ao ser procurado pela reportagem na última terça, desligou o telefone assim que ouviu o pedido de entrevista. "Tudo de bom para o senhor", disse.

    Três diretores de escolas onde ele atua ou já trabalhou disseram à reportagem que o professor nunca pregou o nazismo em sala de aula.

    "Ele tem um ponto de vista [sobre o nazismo], e o máximo que faz é provocar as turmas a pensar a respeito", disse o diretor de uma escola em Blumenau (a 26 km de Pomerode), que pediu para não ser identificado.

    "Conosco [professores e alunos] nunca houve uma postura nesse aspecto [apologia ao nazismo]. E eu, como afrodescendente, posso garantir que nunca houve uma postura inadequada", disse outro diretor de escola da cidade, que também pediu anonimato.

    Nas redes sociais, a descoberta da piscina com a suástica gerou tanto críticas quanto mensagens elogiosas. "É de um cinismo grotesco o sujeito ter uma suástica dentro de uma piscina e alegar que não faz apologia ao nazismo", escreveu em uma rede social um ex-aluno dele.

    As fotos da Polícia Civil foram destaque até na imprensa internacional. A rede RTL, da Alemanha, noticiou o caso e destacou que Pomerode foi colonizada por emigrantes da Pomerânia em 1958.

    A rede CNN, dos EUA, também deu destaque à imagem, e a classificou como uma "descoberta surpreendente". A reportagem do canal de TV lembra ainda que "a região tem uma história de colonização europeia, incluindo alemães e austríacos" e "preserva os costumes de seus antepassados".

    OUTROS CASOS

    Neste ano, segundo o comando da Polícia Civil em Santa Catarina, a principal ocorrência no Estado relacionada ao nazismo ocorreu em Itajaí (a 78 km de Florianópolis), em abril.

    Cartazes que reverenciavam Adolf Hitler com dizeres como "Heróis não morrem" e "Parabéns Führer" foram colados em postes da área central. Dois rapazes foram presos.

    No mesmo mês, a UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) abriu uma sindicância para investigar o que considerou uma ameaça contra um estudante judeu de 19 anos. Na porta de um dos banheiros do curso de Letras foi escrito "morte ao judeu do português" [em referência ao curso]. Nenhum responsável foi identificado.

    Uma pesquisa realizada em 2013 na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), com base em downloads de conteúdo nazista, identificou 45 mil simpatizantes neonazistas em Santa Catarina. Em São Paulo, eram 29 mil, de acordo com o estudo.

    Apesar dos casos, a Polícia Civil catarinense diz que não há nenhum grupo nazista atuando no Estado.

    "Não há nenhuma investigação nesse sentido. Se aparecer algum desses grupos, temos todo um aparato logístico e de recursos humanos para agir", disse o delegado Akira Sato, da Deic (Diretoria Estadual de Investigações Criminais).

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