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    Babá tem que receber mais para dirigir, diz advogado

    LÍGIA MESQUITA
    DE SÃO PAULO

    21/12/2014 02h00

    "As crianças aqui são finas, têm motorista, segurança. A gente não precisa dirigir, não", diz Neia Souza, 30, segurando seu celular com uma capinha de couro com o logo da grife Louis Vuitton.

    Ela é uma das dez babás que brincam com crianças em uma praça do Jardim Paulistano (zona oeste de SP) na tarde da última segunda (15). Nenhuma delas ainda dirige no serviço. "Se minha patroa me pedisse para levar e buscar, eu faria numa boa, mas pediria aumento", afirma.

    Sua colega de profissão e de pracinha Estela Oliveira, 24, tem habilitação e carro, mas não quer acumular funções. "Além de ser muita responsabilidade, você ainda vira motorista do casal e não ganha aumento", fala.

    O advogado trabalhista Flávio Pires, do escritório Siqueira Castro, diz que as babás que também fazem o transporte das crianças precisam ter o acúmulo de funções registrado em contrato.

    "E têm que ganhar no mínimo o piso da categoria de motorista além do salário como babá, não importa se dirijam apenas uma ou duas vezes por semana. É desvio de função", afirma.

    Tomando conta do cachorro enquanto a babá brinca com as duas crianças da casa onde trabalham, o motorista Carlos J. S. diz não ter medo de perder o emprego para a colega. "Quero ver elas fazerem as duas coisas. É o mesmo que falarem para o motorista começar a trocar fralda, dar banho."

    Ernesto Rodrigues/Folhapress
    Eliane Dantas, a Di, trabalha como babá-motorista de Levi, 5, e Stella, 3, há três anos; patrões demitiram motorista
    Eliane Dantas, a Di, trabalha como babá-motorista de Levi, 5, e Stella, 3, há três anos

    FÃ DO VOLANTE

    Na casa da planejadora Tatiana Anders, 35, o motorista perdeu o emprego quando a babá Eliane Dantas, 39, assumiu o volante há três anos.

    Di, como é chamada, já cuidava de Levi, 5, e Stella, 3, havia dois anos quando os patrões decidiram colocá-la para também levar as crianças ao dentista, à escola, ao clube e às festinhas.

    "O motorista não podia entrar com as crianças no clube nem em algumas festinhas. Aí, como a Di me dizia que dirigia, decidi experimentar. Deu tão certo que ela virou a motorista", conta Tatiana.

    Di ganhou aumento para acumular as duas funções e recebe benefícios, como bolsa de inglês para a sua filha.

    No primeiro mês ao volante, teve a companhia do chofer como copiloto, para ganhar confiança.

    "No comecinho eu era um desastre, ralei o carro várias vezes na hora de estacionar (risos)", lembra.

    Hoje, Di vai e volta para sua casa todos os dias com o Corsa que os patrões disponibilizaram para ela trabalhar.

    Muitas vezes, quando não está com as crianças, vai ao supermercado fazer compras para a casa. "Sou muito feliz com o que faço e não acho exploração. É mais prático", diz.

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