Ver a queima de fogos de Réveillon do alto das favelas da zona sul do Rio tem seu preço, mas já foi mais caro.
Da laje de Azelina Viana dos Santos, 81, no morro do Pavão-Pavãozinho, se vê toda a orla de Copacabana, Ipanema e Leblon. Desde 2009 ela dá uma festa de Réveillon para cerca de 60 convidados.
No ano passado, um ingresso para sua festa de Ano-Novo chegava a custar até R$ 1.350, mas, neste ano, o preço caiu para R$ 450.
Azelina diz que quer atrair mais brasileiros. Além disso, a festa do ano passado provou que é difícil emplacar preços tão altos: houve mais jornalistas não pagantes do que turistas.
Neste ano, o cardápio de Azelina terá uísque importado, espumante e caipirinha. Cerveja não –os convidados ficam bêbados demais. Para comer, petiscos e bobó de camarão, além de frutas e torta de chocolate com morango.
"O preço estava alto demais", admite Daniel de Plá, especialista em marketing que a ajuda a organizar a festa. Para ele, o Rio esteve muito caro em 2014 e houve um reajuste natural.
Já Deise Franklin, 42, dona do albergue Vizu do Galo, no morro do Cantagalo, vai cobrar R$ 250, "preço de bala por um Réveillon no Rio", segundo ela. No ano passado, seu vizinho cobrou R$ 350.
"Não quero ficar selecionando quem merece estar na minha festa. Se selecionar por dinheiro, não estou sendo diferente do Copacabana Palace. Conhecer a favela não pode ser só para quem tem dinheiro", diz.
| Ricardo Borges/Folhapress | ||
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| Azelina Viana dos Santos, 81, que faz festas de Ano-novo em sua laje no morro do Pavão-Pavãozinho |
VIOLÊNCIA
Agentes de turismo com experiência na área negam que a queda tenha relação com a violência.
A Rocinha, por exemplo, foi uma das primeiras favelas a receber turistas no Rio. Tem UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) desde 2012, mas teve um 2014 violento.
"Antes, durante e após a pacificação, a Rocinha sempre recebeu muito turista", diz Ailton Araújo Ferreira, da agência de turismo Rocinha Original Tour.
A pesquisadora da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Bianca Freire-Medeiros, que estuda o fenômeno do turismo em favelas, diz que o fluxo de turistas costuma cair em função de conflitos.
Mas, para ela, a queda nos preços se deve mais ao fato de que eles estavam exagerados no ano passado.
"Os moradores estão entendendo mais como a coisa funciona, estão com uma cabeça de negócios. ", diz.
GENTE NO ASFALTO
Jean Pierre, dono de uma laje no Vidigal que tem vista para a queima de fogos de toda a zona sul, também quer atrair mais locais neste Ano-Novo. Em 2013, ele cobrou até R$ 350. Neste ano, o preço ficará em R$150.
"No ano passado teve muita gente do asfalto", afirma, referindo-se a convidados que não moram na favela. "Se eu fizer uma coisa só pra bacana, a comunidade vai reclamar."