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    Marilza Araújo Sanches (1945-2014) - Professora de datilografia dedicada

    FABRÍCIO LOBEL
    DE SÃO PAULO

    25/12/2014 00h01

    Marilza tinha quatro anos quando sua mãe tomou o rumo de São Paulo com os quatro filhos e a avó das crianças para trabalhar nas indústrias Matarazzo. A mãe deixou para trás um marido metido com política e um padrinho poderoso em todo o Nordeste.

    Com essa herança, Marilza aprendeu logo a lição da independência.

    Graças à agilidade e uma incrível habilidade com as palavras, tornou-se professora de datilografia.

    Marilza parecia conhecer todas as palavras existentes, mesmo aquelas em espanhol (culpa do marido, um espanhol que conheceu nas aulas de datilografia).

    Exigente, passou a cobrar dos filhos o significado das palavras que eles iam conhecendo. Cobrava também que eles soubessem digitar na pesada máquina de escrever, usando os dez dedos.

    Montou em casa uma biblioteca de gibis, livros de ciências, exemplares de Machado de Assis, jornais e revistas. Sempre que um filho terminava uma leitura, pedia um resumo, como em uma chamada oral na escola.

    Tinha o costume de encapar os livros que lia, para não danificá-los.

    Tinha também a mania de, sempre que lia esta Folha, guardar a página de Ilustrada em que são publicadas as palavras cruzadas.

    Mantinha dentro da bolsa ainda um livreto reserva do jogo para responder em casos de emergência.

    Era com eles que se distraía no hospital durante os oito anos em que realizou tratamento de um câncer.

    Morreu no último dia 17, aos 69. Deixa o marido, Roberto Sanches e quatro filhos.

    coluna.obituario@uol.com.br

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